Ferramentas para compreender e transformar
Formar democratas e revolucionários, enriquecer culturalmente
Nestes primeiros dias do ano é sempre a mesma azáfama: arrumar a casa, fazer balanços, verificar as existências e planificar o futuro. Um ávido corrupio para cumprir as obrigações ditadas pelo calendário, claro, mas sobretudo para se poder, depois, lançar-se de novo ao labor que realmente importa.
Numa iniciativa realizada em Junho passado, em Lisboa, com o lema As Edições Avante! ao serviço da democracia e do progresso social», no seguimento das comemorações do Centenário do Partido, Francisco Melo sintetizava da seguinte forma os objectivos da editora: «mobilizar para a acção, formar democratas e revolucionários, combater a reacção, defender as conquistas e os direitos da classe operária e de todos os trabalhadores, apontar os caminhos para o socialismo nas condições concretas do nosso país».
Por isso, ao fazer-se o balanço do ano que passou, e independentemente das muitas potencialidades ainda por aproveitar, é justo conferir se esses objectivos nortearam o seu trabalho. Temos, por um lado, as novas edições de O Partido com Paredes de Vidro, do Relatório ao VI Congresso do PCP e O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista, todas da autoria de Álvaro Cunhal, três obras que, com temáticas diferenciadas, partilham a profundidade de análise, a clareza de objectivos e uma rica fonte de ensinamentos que nos permitem compreender e transformar a realidade do nosso tempo.
A intervenção política sobre as questões de actualidade dificilmente poderia ser mais evidente do que com a edição de Energia e Recursos na Transição Energética, em resultado da mesa-redonda promovida pelo PCP em Maio passado, e onde se abordam, entre outras, as questões relacionadas com os preços e a produção de energia. Uma situação que se transformou com uma conjuntura nacional e internacional marcada pelos impactos da guerra e das sanções, em particular por parte da União Europeia, que, como nos lembrou António Avelãs Nunes, no seu livro sobre A Integração Europeia, é um projecto imperialista. Nessa luta mais alargada, a antologia de textos de Albano Nunes, Os Processos Revolucionários: Análise Concreta e Perspectivação Histórica, permite, pela amplitude do que nele se aborda, apreender «a dinâmica das contradições da realidade em questão para fundamentadamente a perspectivar historicamente».
Mas a intervenção política também se faz no plano cultural. A edição da antologia das Obras de Soeiro Pereira Gomes, o livro Chão da Casa de João Monge, que junta três belíssimos poemas em torno da luta dos comunistas portugueses e do seu Partido, e a obra José Saramago, Um Escritor com o seu Povo, publicada no quadro das comemorações do centenário do seu nascimento, foram outras novidades que não só procuraram corresponder aos objectivos acima enunciados como contribuir para o enriquecimento cultural de todos os trabalhadores e democratas.
Além das novidades, outros livros foram bastante procurados: os clássicos do marxismo-leninismo, com o Manifesto do Partido Comunista à cabeça, o livro Princípios Elementares da Propaganda de Guerra, que tendo sido editado já há 15 anos demonstrou, além do seu valor no combate político que se trava na luta pela paz, quanto há para aproveitar do que vai sendo publicado, ou as obras de José Carlos Ary dos Santos, e em particular a nova edição de As Portas Que Abril Abriu, com ilustrações de Filipa Malva, que permitiu realizar exposições e sessões em Lisboa, Coimbra e Setúbal (estando mais planeadas para este ano, intervindo também dessa forma nas comemorações dos 50.º aniversário do 25 de Abril).
Esta última dimensão, aliás, é das mais significativas da acção da editora, sempre. A realização de múltiplas sessões de apresentação de livros, de norte a sul do país, a importância da Festa do Avante! e da participação na Feira do Livro de Lisboa (e este ano também na de Braga), as muitas iniciativas do Partido com bancas de Natal, ou a campanha que a JCP realizou no final do ano, mostram que o muito que se fez abre caminhos para se fazer muito mais, assim haja o engenho que dê corpo à vontade.
Como nos lembrava José Barata-Moura na mesma iniciativa, «Trata-se de um inestimável trabalho político de produção literária de meios de produção para o pensamento e para a luta. O obscurantismo das deturpações não irá parar, mas o arsenal da crítica dispõe doravante de um sistema de armas robustecido para lhe fazer frente.» Venha 2023, que a luta continua.