Povo peruano exige fim da repressão, eleições antecipadas e nova Constituição

No Peru, após a destituição pelo Congresso do presidente Pedro Castillo, manifestantes exigem eleições gerais antecipadas e uma assembleia constituinte. A repressão dos protestos populares provocou pelo menos 26 mortos e centenas de feridos, além de numerosas detenções.

Lusa

Agrava-se a crise política e social no Peru, onde o presidente Pedro Castillo foi destituído pelo Congresso e preso e a nova chefe do Estado, Dina Boluarte, lançou o exército e a polícia contra os manifestantes que exigem nas ruas eleições antecipadas e uma assembleia constituinte.

A brutal repressão pelas «forças da ordem» já causou pelo menos 26 mortos, centenas de feridos e numerosos detidos. Foi imposto em 15 províncias o recolher obrigatório e decretado em todo o país, por 30 dias, o «estado de emergência», que implica a suspensão de direitos fundamentais.

Chegado à presidência em meados de 2021, Castillo sofreu desde o primeiro momento bloqueios da direita e extrema-direita parlamentar, que tentou destituí-lo. Conseguiu concretizar tal intento agora, no dia 7, quando o então presidente, na iminência de nova votação para o afastar, quis dissolver o parlamento e convocar eleições.

Organizações sociais, camponesas, estudantis e de trabalhadores, entre as quais a Assembleia Nacional dos Povos e a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru, têm convocado protestos em Lima e noutras cidades, exigindo a libertação de Castillo – que, entretanto, foi colocado em «prisão preventiva» por 18 meses –, a renúncia de Boluarte, a dissolução do Congresso, eleições já em 2023 e a criação de uma assembleia constituinte.

Numa escalada das acções repressivas, a polícia peruana invadiu no sábado, 17, no centro de Lima, as instalações da Confederação Camponesa do Peru e do Movimento Novo Peru, alegadamente à procura de camponeses acusados de «terrorismo».

Comunistas peruanos na luta

Os comunistas peruanos estão com os protestos que têm lugar no Peru e manifestam-se contra a repressão e o estado de emergência, exigindo a convocação imediata de novas eleições gerais e de um referendo constitucional.

O Partido Comunista Peruano mostrou-se favorável à realização de eleições em 2023, com «novas regras eleitorais e sem candidatos nem partidos corruptos».

Já o Partido Comunista do Peru – Pátria Vermelha divulgou, logo no dia 9, um comunicado em que propõe «eleições antecipadas e nova Constituição, com o povo unido na acção».

Os dois partidos subscreveram, com as organizações Terra e Liberdade, Juntos pelo Peru e Unidade Popular, uma nota a exigir o fim da «repressão contra o povo», a rechaçar «a militarização e o autoritarismo do governo de facto de Dina Boluarte e o Congresso golpista» e a solidarizar-se com o Movimento Novo Peru e com a Confederação Camponesa do Peru, cujas sedes foram ocupadas pela polícia.

PCP solidário

O PCP endereçou uma mensagem aos Partido Comunista Peruano e ao Partido Comunista do Peru – Patria Roja, em que expressa a «solidariedade aos trabalhadores e povo peruano, aos comunistas e a outras forças progressistas e democráticas, condenando de forma veemente a violenta vaga de repressão levada a cabo após o afastamento forçado do presidente eleito, Pedro Castillo, no dia 7 de Dezembro».

Os comunistas portugueses condenam a «permanente acção de bloqueio e de subversão da direita peruana, maioritária no Congresso nacional – a mesma que há um ano tentou impedir, até ao limite, a tomada de posse do presidente eleito – e que responde aos interesses dos sectores mais reaccionários da oligarquia e classes dominantes peruanas e do imperialismo».

E expressam a solidariedade para com os «protestos e a luta popular pelo fim imediato da repressão policial e militar – responsável pelo assassinato, ferimento e detenção de dezenas de peruanos e o ataque a forças políticas e sociais –, pela reposição integral dos direitos e legalidade democrática, a realização de eleições, o inicio de um processo constituinte».

Denunciando as «manobras de interferência dos EUA e da OEA», o PCP está convicto de que a «luta persistente do povo peruano e a convergência das forças progressistas e sociais do Peru são factores indispensáveis para resistir e travar a operação golpista e a ameaça antidemocrática e abrir caminho a avanços e transformações que vão de encontro às aspirações do povo peruano».





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