África-EUA: promessas e realidades

Carlos Lopes Pereira

Decorreu em Washington, entre os dias 13 e 15, uma «cimeira de líderes» dos Estados Unidos da América e da África.

Do continente africano, estiveram presentes dirigentes de 49 dos 55 Estados. Ficaram de fora o Mali, o Burkina Faso, a Guiné e o Sudão, por terem sido suspensos da União Africana devido aos golpes militares ali ocorridos; a Eritreia, por não ter relações com os EUA; e, ainda, o Sahara Ocidental, sob ocupação de Marrocos.

Os propósitos da Casa Branca ao organizar o encontro, o primeiro deste nível desde 2014, eram os de reforçar as parcerias dos EUA com África, materializando promessas anteriores. Mas a maioria dos observadores considera que os objectivos principais, não declarados, foram os de tentar arregimentar os países africanos para a cruzada contra a China e a Rússia, no quadro da estratégia norte-americana de domínio mundial.

Do que se sabe, os resultados do conclave foram escassos. Os EUA reafirmaram o apoio à admissão da União Africana como membro permanente do G20 e à garantia de um lugar para o continente no Conselho de Segurança da ONU, se e quando esse órgão for alargado. Foi também anunciado que os EUA prometeram investir 55 mil milhões de dólares em África nos próximos três anos em projectos económicos diversos.

As promessas foram acolhidas com cepticismo, por já antes terem sido feitas, desde os mandatos de Barack Obama (2009-2017), e nunca concretizadas. Aliás, a «ajuda» económica a África é insignificante quando comparada com a que Washington concede hoje à Ucrânia ou, pior ainda, quando se sabe que as despesas militares dos EUA, só em 2023, ascendem a 858 mil milhões de dólares –15 vezes mais do que os prometidos investimentos norte-americanos em África ao longo de três anos.

Segundo meios de imprensa dos EUA, as pressões da Casa Branca sobre os dirigentes africanos em relação à China e à Rússia, para tentar responder à «crescente influência de Pequim e Moscovo» no continente, não surtiram efeito.

O chefe do Estado do Senegal e presidente em exercício da União Africana, Macky Sall, aproveitou a cimeira para criticar uma proposta de lei norte-americana que procura contrariar alegadas «actividades russas malignas» em África e ameaça com sanções os países que mantiverem relações com Moscovo. Se o projecto se converter em lei, assegurou o presidente senegalês, «poderia danificar gravemente a relação entre a África e os EUA». Já anteriormente, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), com 16 Estados membros, tinha expressado com veemência a sua oposição a essa legislação, considerando que os EUA estariam, assim, a ameaçar os países africanos com «medidas unilaterais e punitivas».

Agora, na cimeira de Washington, referindo-se a pressões externas, o presidente do Ruanda, Paul Kagame, que aliás mantém boas relações com as potências ocidentais, resumiu a posição da maioria dos dirigentes africanos: «Não creio que devamos ser intimidados para escolher entre os EUA e a China, necessitamos de ter ambos os parceiros».

Os povos africanos mostram, pois, ter memória histórica. E sabem, para não recuar mais, quem são os seus verdadeiros amigos, quem esteve a seu lado nas lutas pela independência e quem, hoje, continua a apoiá-los sem desígnios imperiais no desenvolvimento dos seus países.




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