Tributar os lucros extraordinários dos grandes grupos económicos
O PCP levou anteontem a debate no Parlamento um diploma para tributar os lucros extraordinários dos grupos económicos que engrossam os seus resultados líquidos beneficiando e contribuindo para a espiral de aumento de preços.
Os movimentos especulativos penalizam os trabalhadores e as MPME
Ao abranger os sectores energético, bancário, segurador e de distribuição alimentar, o projecto de lei comunista tem um alcance bastante mais amplo do que a proposta de lei do Governo igualmente submetida a plenário, esta muito menos ambiciosa ao circunscrever-se às petrolíferas e às empresas de distribuição.
Trata-se, assim, num quadro em que a generalidade dos trabalhadores enfrenta o brutal aumento do custo de vida, de tributar de forma extraordinária lucros superiores a 35 milhões de euros nos anos económicos de 2022 e 2023, obtidos à custa da população, à custa dos preços especulativos.
Arrecadação extraordinária de receita extraordinária que permitiria aumentar os apoios às famílias e às micro, pequenas e médias empresas (MPME) para fazer face aos aumento dos preços, reduzir a tributação sobre o trabalho, os rendimentos mais baixos e intermédios e o consumo, bem como investir nos serviços públicos.
Dados pelo deputado comunista Duarte Alves foram alguns exemplos que ilustram bem a dimensão desses lucros naqueles sectores, obtidos a partir de um movimento especulativo de aproveitamento da situação internacional e do qual resultam graves prejuízos para a população e para as MPME.
Casos como o da Galp, cujos lucros ascenderam a 608 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, ou o caso da banca onde os cinco maiores bancos garantiram em igual período lucros fabulosos (por exemplo, o Novo Banco, 428,3 milhões de euros, ou o Santander, 385 milhões de euros). A mesma realidade no que se refere às seguradoras, com 320 milhões de euros no primeiro semestre de 2022 ou no que toca à grande distribuição, com a Jerónimo Martins a registar lucros de 419 milhões de euros e a Sonae a alcançar 118 milhões de euros.
Mas a solução avançada pelo PCP não se distingue apenas pela maior abrangência dos sectores a tributar. Quer também que a tributação extraordinária se aplique aos lucros acima da média dos últimos anos e não apenas a uma parte desses lucros quando superem o limiar de 20%, como pretende o Governo com a sua proposta e em defesa da qual o PS se mostrou irredutível.
«O PCP não está contra os lucros em abstracto ou que as empresas sejam lucrativas (…), o que contesta é a maximização dos lucros resultantes de posições dominantes, monopolistas, da cartelização e de actividades especulativas, que aliás não corroem apenas o poder de compra das famílias, mas também a actividade da generalidade das MPME», afirmam os deputados comunistas na nota preambular do seu texto legislativo.