Parlamento saúda evocação de José Saramago
A Assembleia da República aprovou, no dia 2, um voto de saudação pelo centenário de José Saramago. Apresentado pelo presidente do Parlamento, o voto deixou isolado o Chega, único a votar contra. Todas as outras bancadas e deputados votaram favoravelmente.
Recordando o dia 16 de Novembro, em que se assinalou os cem anos do escritor e militante comunista, o voto refere ser esta a «ocasião para saudar e evocar a memória de um dos maiores escritores da língua portuguesa, o único, até hoje, a quem foi atribuído o Nobel da Literatura».
«A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, evoca o escritor José Saramago, saudando, na data em que se comemora o centenário do seu nascimento, a sua memória, bem como a grandeza e a singularidade da sua obra», lê-se na parte resolutiva do voto.
Em nome da bancada comunista, o deputado Alfredo Maia associou-se ao voto realçando que nele se celebra a obra literária do escritor, uma obra «profundamente marcada por um humanismo de intervenção», bem como «o pensamento e a acção do intelectual empenhado na emancipação dos trabalhadores, numa visão universal e progressista da História e fiel, como militante do Partido Comunista Português, ao projecto de transformação socialista da sociedade».
Elementos esses, acrescentou, que «não são estranhos à criação romanesca, nem à riqueza e profundidade da galeria saramaguiana de personagens – dos trabalhadores rurais do Alentejo de Levantado do Chão, à Blimunda Sete Luas de Memorial do Convento, da Joana Carda de A Jangada de Pedra à família de oleiros de A Caverna, para referir algumas de natureza ficcional, mas que são produto de uma aguda observação do real».
Ideal esse que «não esmoreceu com o prestígio global a que foi definitivamente alçado com o Prémio Nobel», e que o norteou «desde os tempos em que enfrentou o tenebroso aparelho repressivo fascista», anotou Alfredo Maia, recordando que a ele José Saramago se manteve fiel ao fazer das crónicas «a sua trincheira em democracia», «na defesa denodada da Constituição da República e das conquistas de Abril, assim como na denúncia da exploração e das desigualdades, em Portugal e no Mundo, e da opressão dos povos nomeadamente na América Latina».