Para que servem 125 euros?

João Frazão

Podia chamar-se Miguel, Ana, Jorge ou Margarida. É jovem. Licenciado. Trabalha, a tempo parcial, numa multinacional. Estuda e vai defender a Tese de Mestrado nos próximos dias.

Ele, como tantos outros, receberá 125 euros que o Governo PS anunciou para fazer face ao aumento do custo de vida e à inflação galopante.

Ele, como muitos outros, pensará o que fazer com estes 125 euros quando, nos últimos meses, aumentaram exponencialmente os custos com o gasóleo para o automóvel, que tem de usar todos os dias porque o transporte público não responde aos horários desregulados que o fazem sair depois das 23h00, levando-lhe cerca de 70 euros por mês.

Ele, como os outros que fazem compras para casa, faz contas ao que aumentou na conta a pagar e ao tempo que falta para chegar ao fim do mês, depois do dinheiro acabar.

Ele questiona-se ao ver o primeiro ministro anunciar que, com as medidas do Governo, os portugueses vão ainda ficar melhor do que estavam, olhando para o fundo da carteira e para a conta bancária sem ver onde essas melhorias possam estar.

Por mais que olhe para os 125 euros, seja por que ângulo for, ele sabe que, no dia em que os recebe, eles já estão consumidos pelas múltiplas despesas a que foi preciso fazer face e que são a massa com que são feitos os lucros milionários dos grupos económicos que a cada semana são anunciados com pompa e circunstância. E sabe que os 125 euros lhe faltarão no mês que veêm e no outro, e no outro.

E pensa que, afinal, todos estes anúncios e medidas só existem para salvar o capital de aumentar os salários, resposta central à carestia da vida que se agrava a cada dia que passa.

Olhando para o dia de hoje e para os dias que hão-de vir, ele vê uma utilização para os 125 euros. Com eles comprará um bilhete de avião, só de ida. Sem volta à vista.

Vai à procura de vida melhor. De melhor salário. A ele, e a muitos milhares de outros, é esta a saída que lhes resta.

Nos próximos tempos, continuaremos a ouvir falar da sangria de quadros, formados na escola pública, os tais da geração mais bem formada de sempre, e veremos compungidas preocupações daqueles cujas políticas provocam esse êxodo.

Se quisessem mesmo enfrentar este problema responderiam ao grito das manifestações promovidas pela CGTP-IN: metam os 125 euros… no salário!




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