Professores mobilizam-se para a luta «inevitável»

Quer pelo teor da pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado para 2023, quer pela falta de res­postas do Mi­nis­tério da Edu­cação, a luta dos pro­fes­sores é ine­vi­tável para pro­testar e para exigir so­lu­ções.

O Go­verno não propõe nem aceita pro­postas para so­lução dos pro­blemas

A pro­posta de OE «mantém fortes pe­na­li­za­ções aos pro­fes­sores, reduz o sa­lário real e baixa ainda mais o fi­nan­ci­a­mento pú­blico em Edu­cação», afirmou o Se­cre­ta­riado Na­ci­onal da Fen­prof, que no dia 12 tomou po­sição sobre o do­cu­mento que o Go­verno apre­sentou na AR.

A fe­de­ração con­si­dera que «é le­gí­timo in­ferir» que o mi­nistro «deixou cair» o re­cente «com­pro­misso de criar con­di­ções de atrac­ti­vi­dade da pro­fissão do­cente». O OE 2023, «no que aos pro­fes­sores e edu­ca­dores diz res­peito, não re­pre­senta mais do mesmo, mas menos ainda, uma vez que em re­lação aos sa­lá­rios, por exemplo, o que se prevê é uma nova perda de poder de compra».

 

Pro­blemas ig­no­rados

Pe­rante a cres­cente falta de pro­fes­sores, o Go­verno ad­mite a ne­ces­si­dade de tornar atrac­tiva a pro­fissão. Mas, «quando chega o mo­mento de tomar me­didas, de in­vestir na pro­fissão, de re­solver os pro­blemas da car­reira, da pre­ca­ri­e­dade, dos ho­rá­rios de tra­balho ou da apo­sen­tação, que são, ver­da­dei­ra­mente, os que estão na base dessa falta de atrac­ti­vi­dade, não há qual­quer me­dida que seja pro­posta ou aceite por parte da tu­tela».

Na sua pro­posta de OE, o Go­verno «passa com­ple­ta­mente ao lado dos pro­blemas» da car­reira do­cente, pois não prevê «verbas que per­mitam re­cu­perar o tempo de ser­viço con­ge­lado, cor­rigir os abusos e ile­ga­li­dades nos ho­rá­rios de tra­balho, rever o re­gime de ava­li­ação de de­sem­penho e eli­minar as quotas para pro­gressão na car­reira, com­pensar o des­gaste acres­cido no exer­cício da pro­fissão em re­gime de mo­no­do­cência ou in­vestir no re­ju­ve­nes­ci­mento do corpo do­cente».

A Fen­prof não vê neste OE «ne­nhuma in­tenção de com­bater a pre­ca­ri­e­dade ou de ins­ti­tuir in­cen­tivos à co­lo­cação» em zonas para as quais é ne­ces­sário atrair pro­fes­sores.

«Em termos de fi­nan­ci­a­mento pú­blico da Edu­cação, este OE vai manter Por­tugal no pe­lotão da re­ta­guarda», com uma des­pesa total con­so­li­dada que re­pre­senta menos 7,6 por cento do que o valor es­ti­mado para 2022.

A quebra é jus­ti­fi­cada com as trans­fe­rên­cias de com­pe­tên­cias mas, con­trapõe a Fen­prof, «ainda assim, ficam a faltar acima de 1976 mi­lhões de euros para atin­girmos a média dos países da OCDE» e a verba «cairá para os três por cento do PIB, me­tade do que é re­co­men­dado no plano in­ter­na­ci­onal».

Para a Fen­prof «isto assim não pode con­ti­nuar», pelo que, «com os pro­fes­sores, em con­ver­gência com ou­tras or­ga­ni­za­ções ou em ac­ções es­pe­cí­ficas, irá mo­bi­lizar os pro­fes­sores para a luta». Esta «é ine­vi­tável, não só para de­mons­trar o mal-estar que se vive na pro­fissão e pro­testar, como para exigir so­lu­ções para os pro­blemas, já que a aber­tura para a ne­go­ci­ação é es­cassa e, nos poucos pro­cessos que foram de­sen­vol­vidos, o Mi­nis­tério li­mitou-se a impor a sua de­cisão, sendo exemplo maior o que acon­teceu com a mo­bi­li­dade por do­ença».

Numa moção apro­vada a 4 de Ou­tubro, no ple­nário na­ci­onal que, em frente da As­sem­bleia da Re­pú­blica, as­si­nalou o Dia Mun­dial do Pro­fessor, a Fen­prof rei­terou a pro­posta de um pro­to­colo ne­go­cial para a le­gis­la­tura, que in­cluísse a con­tagem in­te­gral do tempo de ser­viço para efeitos de car­reira, o fim das vagas e das quotas na ava­li­ação de de­sem­penho, a eli­mi­nação da pre­ca­ri­e­dade e uma apo­sen­tação justa no tempo e no valor da pensão. O ME também não res­pondeu.

Esse ple­nário man­datou a Fen­prof para «aprovar as formas de luta ade­quadas, quer con­ver­gentes, quer es­pe­cí­ficas, in­cluindo, se ne­ces­sário, a con­vo­cação de greve».

No dia 24, se­gunda-feira, co­meça uma greve ao so­bre­tra­balho e ao ser­viço ex­tra­or­di­nário, que pode pro­longar-se até final do ano.

 



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