Nedal Fatou, da Frente Democrática de Libertação da Palestina

A unidade dos palestinianos é fundamental na luta contra Israel

A aliança estratégica entre Washington e Telavive responde à necessidade de os EUA garantirem os seus interesses e a sua hegemonia no Médio Oriente, considera Nedal Fatou, da Frente Democrática de Libertação da Palestina. Em entrevista realizada durante a Festa do Avante!, o dirigente da FDLP realça que a unidade entre os palestinianos é fundamental para o avanço da luta contra os ocupantes israelitas.

«Com as actuais políticas israelitas de confisco de terras e colonatos, os palestinianos podem sofrer uma nova Nakba»

 

Regista-se um aumento da agressividade do ocupante israelita, com expulsões de populações, prisões, mais bombardeamentos sobre Gaza e o fecho de entidades sociais palestinianas. A que se deve tal agravamento?

A agressividade continua a ser a mesma, ela pode subir ou descer, dependendo dos interesses do ente sionista de Israel. Infelizmente, nos últimos anos, foram produzidos os chamados Acordos de Abraão, com o objectivo de manter a hegemonia dos EUA na região e, ao mesmo tempo, fortalecer o papel regional de Israel mediante a normalização das suas relações com países árabes.

É uma política desenhada contra os interesses do povo palestiniano. Os palestinianos estão sob ocupação e, para os manter controlados, a agressão cresce umas vezes, diminui em outros momentos, dependendo do contexto político.

 

Como responde a resistência palestiniana, nomeadamente a FDLP, à violência dos ocupantes?

 

O posicionamento da FDLP face ao conflito com Israel é claro. Exigimos acabar com a ocupação; um Estado palestiniano independente com Jerusalém como capital nos territórios de 1967; manter a unidade entre todos os palestinianos frente à entidade sionista israelita; e prosseguir com a resistência por todos os meios, de acordo com o estabelecido nas leis internacionais.

Nós sempre apelámos à resistência popular. O objectivo é que o ocupante saiba que a melhor maneira para alcançar a paz é reconhecer os direitos dos palestinianos. Se isto não se conseguir, a situação será cada vez pior, haverá cada vez mais vítimas palestinianas.

 

A administração anterior reconheceu Jerusalém como capital de Israel e a actual não reverteu essa decisão. Como vê a FDLP a política dos EUA relativamente à Palestina e ao Médio Oriente?

 

A política dos EUA não mudou. A política da administração Biden continua a política da administração Trump, que reconheceu Jerusalém como «capital eterna» do Estado de Israel.

O que fez Biden na viagem de Julho deste ano a Israel e à Arábia Saudita? Afirmou «crer» na possibilidade de uma solução de dois Estados para dois povos e essa «crença» levou-o deslocar-se a Jerusalém e a Belém. Foi uma visita simbólica sem quaisquer efeitos positivos nos interesses dos palestinianos. Na mesma altura, na visita a outros países árabes, Biden garantiu a aplicação dos Acordos de Abraão, que a administração Trump havia formalizado antes com os países que normalizaram as suas relações com Israel.

Isso não contribui para a paz. Isso é fortalecer a «santa aliança» que os EUA têm com Israel. Essa aliança sagrada, estratégica, com Israel responde à necessidade de os EUA garantirem os seus interesses e a sua hegemonia no Médio Oriente. E uma das respostas foi estabelecer mais alianças com países árabes.

Os EUA, com Trump ou Biden, e Israel, tentam impor aos palestinianos uma política que passe apenas por disponibilizar «ajuda» económica e por atenuar os problemas básicos do dia-a-dia… Mas isso não resulta: os palestinianos exigem os seus direitos.

 

Nestas condições, que caminho propõe a FDLP para alcançar um Estado da Palestina independente, soberano, viável?

 

A posição da FDLP baseia-se em dois princípios fundamentais. O primeiro é a unidade entre os palestinianos, acabar com as divisões entre os palestinianos, em especial entre Hamas e Fatah, que são as organizações com mais peso na luta do povo palestiniano. O segundo princípio é a aplicação de todas as resoluções que foram aprovadas nas instituições palestinianas, como o Conselho Nacional Palestiniano e o Conselho Central Palestiniano.

A aplicação destas resoluções e a unidade entre os palestinianos abririam caminho a uma resistência popular, por todos os meios, para acabar com a ocupação de Israel.

Sem esta via, não vemos futuro para a independência palestiniana, sobretudo quando assistimos todos os dias ao assassinato de cidadãos, ao confisco de terras, à construção de mais colonatos israelitas.

Isto, estatisticamente, faz com que se reduza o espaço dos palestinianos. Os palestinianos têm uma taxa de natalidade muito mais alta do que os israelitas e, portanto, se Israel continuar com as políticas de colonizar mais e de confiscar mais territórios, podemos chegar, infelizmente, a uma nova Nakba [catástrofre, em árabe], a uma nova expulsão de palestinianos para fora da Palestina histórica.

E é muito importante que as potências mundiais tenham presente que o povo palestiniano pode sofrer uma nova expulsão em massa.




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