O agravar das condições de vida combate-se com o aumento dos salários e pensões

As me­didas que o Go­verno anun­ciou para fazer face ao agra­va­mento do custo de vida ficam muito aquém da gra­vi­dade da si­tu­ação e do que se impõe fazer. «São in­su­fi­ci­entes e não dão a res­posta ne­ces­sária», cri­tica o PCP.

o Go­verno re­cusa-se a en­frentar os in­te­resses e o poder dos grupos eco­nó­micos

A con­clusão foi ti­rada no dia 7 pela de­pu­tada Alma Ri­vera no en­cer­ra­mento do de­bate sus­ci­tado pela sua ban­cada, na Co­missão Per­ma­nente do Par­la­mento, cen­trado no au­mento do custo de vida, os lu­cros dos grupos eco­nó­micos e o agra­va­mento das de­si­gual­dades.

En­quanto «uns poucos vão muito bem», a grande mai­oria, de tra­ba­lha­dores, re­for­mados, MPME, os agri­cul­tores e pes­ca­dores, vai muito mal», cons­tatou a par­la­mentar co­mu­nista, des­cre­vendo, em sín­tese, o cho­cante con­traste que vai mar­cando a re­a­li­dade na­ci­onal: o de um ín­fimo pu­nhado de grupos eco­nó­micos a acu­mular lu­cros de mi­lhares de mi­lhões - seja no sector da energia e dos com­bus­tí­veis, seja na grande dis­tri­buição ali­mentar, seja na banca ou te­le­co­mu­ni­ca­ções -, ao mesmo tempo que a ge­ne­ra­li­dade dos tra­ba­lha­dores e do povo está a passar por enormes di­fi­cul­dades e a so­frer os efeitos de uma in­flação que lhe vai re­du­zindo o poder de compra.

E o que faz o Go­verno pe­rante este quadro? Con­tinua a ig­norar o des­con­trolo ab­so­luto sobre a for­mação de preços da energia e dos com­bus­tí­veis e sobre as mar­gens abu­sivas e in­jus­ti­fi­cadas que são pra­ti­cadas com total im­pu­ni­dade. Exemplo disso é a margem bruta de re­fi­nação na GALP, que quase quin­tu­plicou, lem­brou Bruno Dias, vendo esta como uma «questão cru­cial» que ajuda a ex­plicar o dis­parar dos lu­cros dos grupos eco­nó­micos do sector, «à custa dos sa­cri­fí­cios do povo».

E tudo pe­rante a com­pla­cência do Go­verno, a quem o de­pu­tado co­mu­nista acusou de per­sistir na re­cusa em «en­frentar esses in­te­resses», em «con­trolar os preços», em «taxar os lu­cros es­pe­cu­la­tivos e in­jus­ti­fi­cados».

Go­verno sub­ser­vi­ente

Daí que este tenha sido um de­bate cla­ri­fi­cador, onde fi­caram bem pa­tentes as op­ções de fundo e de classe dos di­fe­rentes par­tidos e a forma como en­caram a res­posta à grave si­tu­ação com que está con­fron­tada a ge­ne­ra­li­dade dos tra­ba­lha­dores e do povo. «Aí está o PS sub­ser­vi­ente aos in­te­resses eco­nó­micos, sem querer pisar os calos aos mais po­de­rosos», anotou Alma Ri­vera, muito crí­tica quanto ao facto de o Go­verno nada dizer sobre os «lu­cros mi­li­o­ná­rios acu­mu­lados neste pe­ríodo». Si­lêncio do PS que «é acom­pa­nhado por PSD, IL e Chega na su­bor­di­nação aos grupos eco­nó­micos e mul­ti­na­ci­o­nais e na re­jeição de so­lu­ções que po­nham em causa os seus lu­cros», acres­centou a de­pu­tada do PCP.

Bem pro­curou a mi­nistra Ad­junta e dos As­suntos Par­la­men­tares, Ana Ca­ta­rina Mendes, dizer que o «Go­verno não es­teve pa­rado» pe­rante o au­mento da in­flação e a de­gra­dação das con­di­ções de vida dos por­tu­gueses, ao mesmo tempo que re­petia o velho dis­curso das «contas certas» e da «sus­ten­ta­bi­li­dade do País».

A ver­dade nua e crua é que as me­didas apre­sen­tadas pelo Go­verno «não travam a in­flação, não re­põem o poder de compra, não exigem ne­nhuma con­tri­buição aos grupos eco­nó­micos que estão a lu­crar com a in­flação, não com­batem as in­jus­tiças e de­si­gual­dades so­ciais», sus­tentou a líder par­la­mentar co­mu­nista, pondo os pontos nos is logo a abrir o de­bate.

Re­fe­rindo-se às pen­sões, não he­sitou mesmo em clas­si­ficar de «fraude aos pen­si­o­nistas» a pro­posta do Go­verno, uma vez que, a prazo, «terá o efeito de um corte per­ma­nente». Do mesmo modo, na pers­pec­tiva do PCP, nada re­solve a pres­tação de 125 euros, aten­dendo a que a in­flação já sig­ni­ficou um corte de 50 euros por mês para quem re­cebe o sa­lário mí­nimo na­ci­onal, o que num ano equi­vale a um corte de quase um sa­lário.

«O que re­solve é o au­mento geral dos sa­lá­rios, das pen­sões e re­formas, das pres­ta­ções so­ciais, a fi­xação dos preços de bens es­sen­ciais, travar o au­mento das rendas, taxar os lu­cros dos grupos eco­nó­micos acu­mu­lados à custa do poder de compra», rei­terou Paula Santos.




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