EUA «advertem» países africanos

Carlos Lopes Pereira

Os Estados Unidos da América lançaram mais uma ofensiva política e diplomática em África, procurando minar as relações dos países do continente com a China e a Rússia.

A embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, deslocou-se ao Gana, Uganda e Cabo Verde. Em simultâneo, o secretário de Estado, Antony Blinken, viajou à África do Sul, República Democrática do Congo e Ruanda. Por coincidência, estas visitas realizaram-se pouco tempo depois de um périplo do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, a países africanos.

Durante as visitas dos representantes dos EUA foram proferidas declarações interessantes.

Na capital ugandesa, Campala, após um encontro com o presidente Yoweri Museveni, a embaixadora norte-americana na ONU foi clara: os países africanos são livres de comprar cereais e fertilizantes à Rússia mas se comercializarem matérias-primas sancionadas pelos EUA, como o petróleo russo, arriscam-se a «sofrer consequências».

As ameaças não visaram apenas o Uganda, país que se recusou a condenar a Rússia pela guerra na Ucrânia, posição adoptada por metade dos países africanos e pela própria União Africana.

As declarações de Thomas-Greenfield foram enviadas no dia 8 pela embaixada dos EUA em Maputo à comunicação social. Insistem em «advertir» os países africanos, incluindo Moçambique, «a não se envolverem com países sancionados» por Washington. Isto, num momento em que «Moçambique estuda a possibilidade de comprar petróleo russo, em rublos, caso essa opção seja viável, depois de Moscovo ter apresentado a Maputo disponibilidade para esse mecanismo», segundo a agência Lusa, citando o ministro moçambicano dos Recursos Minerais e Energia, Carlos Zacarias.

Interessantes também foram as afirmações da ministra sul-africana das Relações Internacionais, Naledi Pandor, numa conferência de imprensa conjunta com o homólogo norte-americano, na segunda-feira, 8, em Pretória.

A governante sul-africana defendeu o multilateralismo. Pugnou pelo diálogo e a negociação como formas de resolver guerras e outros conflitos. Agradeceu aos EUA não terem tentado forçar a África do Sul a tomar partido no conflito entre Rússia e Ucrânia. Garantiu que ela não será intimidada com tais pressões e que espera a mesma posição da parte dos países africanos. Reafirmou o apoio à paz e o repúdio pela guerra. Disse que está preocupada com o que acontece ao povo palestiniano e ao povo ucraniano mas que não vê a mesma abordagem na aplicação das leis internacionais nos dois casos. Denunciou as interferências externas em África, que instigam conflitos em diversos países, como resultado da cobiça pelas riquezas do continente por parte de actores que «nem sempre têm os interesses da África no coração».

Blinken, provavelmente envergonhado, lá respondeu que «o importante é o futuro».

Mas os africanos – que aspiram a um presente e um futuro melhores, de paz e desenvolvimento, de justiça social – não esquecem a sua história. Sabem bem quem financiou e armou ditaduras fascistas, governos colonialistas, regimes racistas, não se enganam com os que hoje se arvoram em amigos do continente. E sabem quem esteve ao lado dos povos africanos, apoiando-os nos duros combates contra a dominação e a exploração estrangeiras e pela conquista da independência e liberdade.



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