Muros

Filipe Diniz

Referindo o massacre de Melilla em 24.06, o JN (3.07.2022) publica um artigo sobre muros na UE: «930 km de aço desde a Guerra Fria, 4750 km de controlos biométricos, muros virtuais marítimos da Agência Frontex, cercas fronteiriças da Área Shengen.» Chama-lhe «geopolítica do arame farpado», uma boa expressão.

A questão abrange o planeta inteiro. Um relatório (https://www.tni.org/en/walledworld) acrescenta mais dados. Referindo 1989, assinala dois muros caídos nesse ano: o de Berlim e o do apartheid na África do Sul. Na altura existiam seis muros físicos, em 2018 existiam 63. Pelo menos 37 foram construídos após 2000. Trincheiras de uma guerra, os grandes produtores de material militar – da Airbus à General Dynamics ou à Raytheon – fornecem-lhes apoio tecnológico. Empresas israelitas – Elbit, Magal Security – disponibilizam serviço completo, construção e apoio técnico. O monstruoso muro na Palestina ocupada dá-lhes o devido crédito. Marrocos também se destaca no ilegalmente ocupado Saara Ocidental: 2720 km de muro, nove milhões de minas no terreno.

Outra fonte (https://bigthink.com/strange-maps/walled-world) faz ainda mais sentido: uma só linha liga barreiras à volta do planeta: a zona desmilitarizada Coreia do Sul/RPDC; a defesa marítima australiana; México/EUA; Ceuta e Melilla/Espanha; a fronteira do espaço Shengen; o muro Israel/Faixa de Gaza. Separa «a parte do mundo onde se concentra 73% do rendimento mundial e 14% da população da parte onde se concentra 86% da população e 27% do rendimento». Desenha um apartheid global, exprime o enorme medo da sua explosão.

Os espaços que separa são muito complexos e heterogéneos, com contradições internas de natureza muito diversa. Mas nenhum muro e nenhum medo poderá deter a aspiração dos famélicos da Terra a igualdade, prosperidade e paz.

 



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