O papel decisivo da luta de massas

Manuel Rodrigues

A candidatura do Pacto Histórico, coligação de forças progressistas, incluindo o Partido Comunista Colombiano, venceu as eleições presidenciais na Colômbia. As notícias referem que Petro definiu o triunfo como «histórico» e defendeu a aposta na paz.

«É história aquilo que estamos a escrever neste momento, uma história nova para a Colômbia, para a América Latina, para o mundo», disse o novo presidente eleito, sublinhando que aquilo que aí vem é «uma mudança real» e que não irá trair o eleitorado.

Por seu lado, Francia Márquez, vice-presidente eleita, saudou todos os sectores que tornaram possível o triunfo do Pacto Histórico, sublinhando que, ao cabo de 214 anos, se deu um passo muito importante: «alcançámos um governo do povo.»

Trata-se, de facto, de uma vitória muito importante num País que possui mais de 50 milhões de habitantes, a segunda maior população da América do Sul (constituída por índios originários e descendentes de africanos e europeus, sobretudo de espanhóis).

Vitória tanto mais significativa porquanto abre, finalmente, novas e melhores condições para a aplicação do plano de paz aprovado em 2016, acordado em Havana, e na prática, sistematicamente violado pela oligarquia de extrema direita que dominou aquele País, sempre com o beneplácito apoio do imperialismo norte-americano.

Vitória mais assinalável ainda na medida em que é contrária à intenção dos EUA de fazer da Colômbia (ainda mais) uma base militar estratégica para o domínio imperialista de toda a América Latina e de alinhar este país com a NATO.

Bem sabemos que os imensos problemas acumulados por décadas de política de direita e da mais violenta repressão não ficaram resolvidos no desfecho eleitoral. Bem sabemos que a luta de massas será sempre o factor determinante e decisivo nas transformações sociais que se impõe realizar naquele País. Mas os resultados das eleições, que em grande medida consequência dessa luta (que tantas vidas custou), criam melhores condições para a ampliar; para consolidar a paz; para puxar pelas potencialidades que se abrem; para promover o desenvolvimento soberano. E isso faz uma diferença de incalculáveis proporções. Com reflexos na América Latina e no mundo.




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