Pedrógão: o silêncio do abandono

Ângelo Alves

Assinalou-se na semana passada cinco anos sobre o grande incêndio de Pedrógão Grande, uma verdadeira tragédia que consumiu 45 mil hectares, provocou 66 mortos e 250 feridos e destruiu parcial ou completamente 500 habitações. Naqueles dias e nas semanas seguintes, Pedrogão esteve no centro das atenções. A comunicação social instalou-se ali de armas e bagagens. Pedrógão nunca seria esquecido, afirmaram os mais altos responsáveis do País e o corrupio de dirigentes partidários.

Passados cinco anos, o PCP foi o único partido político que fez deslocar a Pedrógão Grande uma delegação composta por vários dirigentes nacionais e regionais e dirigida pelo Secretário-geral. Lá estivemos, como tantas outras vezes ao longo destes cinco anos, a maioria delas sem cobertura mediática, avaliando a situação e reunindo com os Bombeiros de Pedrogão, esquecidos e transformados em bode expiatório de culpas solteiras. Na Barragem do Cabril apresentámos as nossas conclusões à comunicação social.

Estiveram presentes duas cadeias de televisão e a Agência Lusa. Primeira pergunta: «como comenta o facto de ser o único líder partidário a deslocar-se a Pedrógão nesta data?» O interesse noticioso era óbvio e todos os jornalistas quiseram saber a opinião do PCP sobre o evidente barril de pólvora em que está outra vez transformada aquela zona, após cinco anos de promessas não cumpridas.

Foi, portanto, com total surpresa que chegados da jornada constatámos que nenhum canal de televisão noticiou a visita do PCP a Pedrógão. A conclusão é óbvia. As direcções de informação dos dois canais de TV presentes decidiram silenciar o PCP, desrespeitando simultaneamente o dever de informar sobre assunto tão importante e menosprezando o trabalho dos seus próprios jornalistas. Ao fazê-lo não esconderam apenas o facto de o PCP ter sido o único a estar ali. Participaram no abandono e foram coniventes com todos aqueles que com medo de se queimarem nas chamas da sua incongruência decidiram esquecer Pedrógão, as suas gentes e aqueles que, como os Bombeiros, arriscaram a sua vida para salvar aquela terra.

O PCP lá continuará, e não se cansará de apoiar todos os que não desistem de lutar por um futuro para uma região esquecida por tantos.




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