Todos Pró Ruanda

Manuel Gouveia

As classes dominantes da Europa, incluindo muito entulho que gosta de se ver a si próprio como uma «elite», exalam cada vez mais um fedor insuportável, a carne queimada, a pólvora, a matéria orgânica em decomposição... fedem a fascismo. A decisão do governo do Reino Unido de enviar para campos de concentração no Ruanda todos os imigrantes que tentem entrar ilegalmente no país é, provavelmente, do mais chocante que – por agora – esta canalha se atreve a realizar.

Para quem não conhece, a «ideia» é que um imigrante «apanhado» por entrada ilegal seja imediatamente colocado num avião e depositado num campo de concentração no Ruanda. Onde depois poderá apresentar os recursos e os apelos que bem entender. A «ideia» é criar um efeito de dissuasão que diminua os números de imigrantes ilegais. Isto dizem os mesmos «cérebros» que enchem os jornais britânicos a queixarem-se da falta de trabalhadores no Reino Unido. E que só começam a fazer sentido quando acrescentam a «ideia» de que é preciso encontrar os mecanismos para que os trabalhadores aceitem salários mais baixos e impedi-los de lutar por aumentos salariais.

Para que não se pense que este tipo de «ideia» é um exclusivo da direita ou de Sua Majestade, na Dinamarca é um primeiro-ministro «social-democrata» que declara o objectivo de tornar o país tão pouco atractivo para imigrantes que o número dos que o procuram – mesmo para asilo – desça a zero, e está a negociar uma solução similar com o Ruanda.

E como o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos foi obrigado – pela transparente e repugnante forma da coisa – a considerar que esta política era um atentado aos Direitos Humanos, já se discute no Reino Unido a saída da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.

O mundo desta gente é assustador e nojento, mas não é inevitável. Organizemos.




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