Grande 1.º de Maio redobra força para lutar e conquistar

Rejeitar o ataque ao poder de compra e aos direitos dos trabalhadores foi o propósito destacado pela CGTP-IN nas comemorações do Dia Internacional dos Trabalhadores, que reuniram muitos milhares de pessoas, em 32 localidades, demonstrando a grande força do movimento sindical unitário e afirmando a determinação de prosseguir o esforço de organização e a luta.

Com os aumentos de preços, um salário de 800 euros já perdeu 56 euros

Manifestações, concentrações, desfiles e festas populares, organizadas pelas estruturas da CGTP-IN, tiveram lugar em Aveiro, Beja (e barragens do Enxoé e do Roxo), Guimarães (reunindo trabalhadores do distrito de Braga), Bragança, Castelo Branco (bem como Covilhã, Tortosendo e Minas da Panasqueira), Coimbra (e Figueira da Foz), Évora, Faro, Seia (distrito da Guarda), Leiria, Lisboa – também com trabalhadores dos concelhos de Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Seixal e Sesimbra – (e Torres Vedras), Portalegre, Porto, Santarém, Setúbal (e também Grândola e Sines), Viana do Castelo, Vila Real, Viseu (também Mangualde e Lamego) e nas regiões autónomas, em Angra do Heroísmo, Horta, Ponta Delgada e no Funchal.

As comemorações decorreram sob o lema «Lutar e conquistar para o País avançar! Mais salário, 35 horas, emprego com direitos, contratação colectiva, serviços públicos» e nelas confluíram reivindicações de diferentes sectores e empresas, de jovens, mulheres e reformados e outros estratos sociais.

Medidas extraordinárias

Na intervenção da Secretária-geral da CGTP-IN, em Lisboa, na Alameda Dom Afonso Henriques, foi deixado um alerta para o facto de estar em marcha «uma operação que visa acentuar a exploração». Isabel Camarinha recordou que a confederação, há dois anos, denunciou que havia «quem se aproveitasse da pandemia para engordar lucros, enquanto os trabalhadores viam os seus salários reduzidos».

Ora, «os que tentavam anestesiar os trabalhadores com a ladainha do “estamos todos no mesmo barco”, lucraram no ano passado milhares de milhões de euros, distribuíram dividendos que em parte são transferidos para paraísos fiscais ou usam outros mecanismos para não serem tributados, acumularam mais riqueza e receberam apoios do Governo».

«Apoios, que faltam às famílias e às micro, pequenas e médias empresas, não faltaram aos grandes grupos económicos», observou Isabel Camarinha, registando que estas opções do Governo «agravam-se no contexto das sanções e da condenável guerra na Ucrânia». São opções «presentes numa proposta de Orçamento do Estado que passa ao lado das dificuldades dos trabalhadores, das soluções para os nossos problemas, das medidas necessárias para o País avançar e se desenvolver».

Hoje em dia, «o custo de vida aumenta, aumentam os preços dos combustíveis, da habitação, da comida, do vestuário, do gás e da electricidade, aumenta tudo aquilo de que necessitamos para viver». No entanto, «o Governo não age para travar os que especulam» e «quer ir ao bolso de quem trabalha, usando a inflação para desvalorizar ainda mais os salários».

Perante esta grave situação, o Governo e o patronato argumentam «com um sem fim de justificações sobre controlo dos preços e estudos sobre a inflação», «mas precisamos é de uma resposta imediata».

Isabel Camarinha sublinhou que, «com o aumento dos preços, nestes primeiros meses, os salários e as pensões de reforma já foram comidos em sete por cento», ou seja, «um trabalhador com um salário de 800 euros, já baixou para 744, perdeu 56 euros». «Perdeu-os agora e é agora que o poder de compra tem de ser reposto», frisou a dirigente.

«Para uma situação extraordinária, exige-se medidas extraordinárias», assim concretizadas pela CGTP-IN:

– O aumento dos salários de todos os trabalhadores em 90 euros, em 2022;

Aumentos extraordinários, mesmo dos salários que foram actualizados, mas cuja revisão já foi absorvida pela inflação;

– O aumento extraordinário do salário mínimo nacional, fixando-o nos 800 euros a partir de 1 de Julho de 2022;

– O aumento extraordinário de todas as pensões e reformas, para repor o poder de compra, num mínimo de 20 euros.

 

Não é a «espiral da inflação»

«Não aceitamos que o patronato e o Governo usem a patranha de que os aumentos dos salários provocam uma “espiral da inflação”», protestou Isabel Camarinha.

Na sua intervenção, a Secretária-geral da CGTP-IN contrapôs: «Não é para conter a “espiral dos preços”, é para aumentar a espiral dos lucros que o Governo opta por impor aos trabalhadores da Administração Pública mais um ano de perda de poder de compra e dar, assim, o sinal para o grande patronato fazer o mesmo».

Também «não é para conter a “espiral inflacionista” que o Governo opta por manter o salário mínimo nacional, cujo aumento, a que chamaram “histórico”, já desapareceu».

Interrogando «porque se recusa [o Governo] a impor medidas que conduzam à fixação de preços máximos nos combustíveis e onde impera a especulação», Isabel Camarinha notou que esta especulação é «praticada pelo grande capital, que se aproveita da presente situação para acumular mais e mais, à custa dos trabalhadores e do desenvolvimento do País».

 

Lembrado no Porto o Maio de 1982

Na noite de sábado, 30 de Abril, a União dos Sindicatos do Porto (USP/CGTP-IN) promoveu uma iniciativa de evocação dos trágicos acontecimentos de há 40 anos, garantindo que «não esquecemos» a brutalidade da repressão policial, a mando do governo da «Aliança Democrática» e a pretexto de uma provocação orquestrada com a UGT. Nessa noite, dois trabalhadores foram mortos pela polícia de intervenção, uma dezena de pessoas foi baleada e muitas outras foram perseguidas e espancadas, mesmo em locais já muito afastados da Praça General Humberto Delgado.

Agora, o momento foi evocado junto da Estação de S. Bento, no local onde foram assassinados os trabalhadores, colocando flores junto às placas com os nomes das vítimas (Mário Emílio Pereira Gonçalves, que tinha 17 anos, e Pedro Manuel Sarmento Vieira, de 24 anos, militante comunista).

Ali intervieram António Freitas e Palmira Peixoto, dirigentes sindicais do sector têxtil, que estiveram presentes em 1982.

Pouco depois, na Avenida dos Aliados, no palco que no dia seguinte serviria para as comemorações do 1.º de Maio, foi exibido um vídeo, produzido pela USP com imagens e registos sonoros daqueles dias e com música original de Manuel Pires da Rocha e Rui Paiva. Por fim, interveio a Secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha.

Nos números do Avante! de 6, 11 e 20 de Maio de 1982 (que podem ser consultados no site do nosso jornal) foram detalhadamente noticiadas a noite da repressão, as comemorações do dia seguinte e a greve geral de 11 de Maio).

 

Dia de luta para continuar

«A vida prova que não há alternativa à luta, que é decisiva para avançar, para aumentar salários e pensões de reforma, factores indispensáveis para garantir um futuro para o País», para o qual se exige «uma política alternativa».

Na resolução, aclamada pelos milhares de pessoas que participaram, até ao final, no comício sindical na Alameda Dom Afonso Henriques, foi evocado «mais um aniversário dos massacres de Chicago, há 136 anos, que estiveram na origem do 1.º de Maio», e o 48.º aniversário do 25 de Abril, «que teve a sua maior consagração nesse 1.º de Maio de 1974, com milhões de trabalhadores na rua a exigirem e conquistarem direitos sociais e laborais».

Saudando «os trabalhadores que, por todo o mundo e em Portugal, lutam por melhores condições de vida e de trabalho», afirma-se: «A luta desenvolvida, que tem permitido aumentar salários, defender e conquistar direitos, reduzir horários e rejeitar adaptabilidades e bancos de horas, combater a precariedade e garantir a aplicação de direitos consagrados na contratação colectiva, é o caminho que temos de continuar a percorrer todos os dias.»

Na resolução foram reiteradas as reivindicações gerais dos trabalhadores e da CGTP-IN e ficaram inscritas as medidas excepcionais e imediatas, destacadas na intervenção da Secretária-geral da confederação.

Isabel Camarinha tinha acabado de apelar à «intensificação da luta», lembrando greves mais recentes – como o sector do comércio, serviços e grande distribuição, com greve marcada para 1 de Maio – e citando exemplos de como «é possível conquistar» direitos e aumentos salariais.

Trata-se de uma «luta que continua, decidida em cada empresa e serviço, local de trabalho ou sector», como sucedeu com as greves dos trabalhadores do Metropolitano de Lisboa (ontem, dia 4), da transportadora Cristiano Limitada (ontem e hoje), da EMEL e das logísticas da Worten na Póvoa de Santa Iria e na Azambuja (amanhã, dia 6) e da CP (dia 16).

Aqui foram incluídas também a saída à rua dos trabalhadores da Amarsul (dia 9), a luta dos reformados e pensionistas (dia 10, como referimos na pág. 10), a luta dos enfermeiros (dia 12) e a manifestação nacional dos trabalhadores da Administração Pública (dia 20).

Para «analisar a situação político-sindical, o Programa do Governo e a proposta de Orçamento do Estado para 2022, o balanço do 1.º de Maio, as respostas aos problemas e reivindicações dos trabalhadores, a intensificação da acção reivindicativa e lutas a desenvolver», foi convocado para ontem, dia 4, o Conselho Nacional da CGTP-IN.

 

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