Projectar os valores de Abril num futuro de progresso, paz e soberania
«Ao comemorarmos Abril evocamos a sua realização mas sobretudo projectamos as suas conquistas e valores na construção de um Portugal desenvolvido, de progresso, de paz e soberano», afirmou a deputada comunista Paula Santos, no Parlamento.
Abril é património do povo português e cabe aos democratas defendê-lo
As palavras da líder parlamentar comunista foram proferidas esta segunda-feira, na sessão solene comemorativa do 48.º aniversário do 25 de Abril, que contou com a presença do Presidente da República, o último a intervir logo após o alocução do Presidente da Assembleia da República. Antes, pela tribuna emoldurada pelo vermelho dos cravos, passaram representantes de todos os partidos com assento parlamentar, que discursaram perante um hemiciclo onde se encontravam as mais altas individualidades do Estado. Nas galerias, cheia de convidados mas sobretudo de povo anónimo, como não se via desde 2019, presença destacada tiveram os capitães de Abril, militares a quem Paula Santos na sua intervenção prestou homenagem, a eles e ao Movimento das Forças Armadas. Como homenageados por si foram «todos os democratas e antifascistas», «os homens e mulheres que em circunstâncias extremamente difíceis lutaram contra o fascismo». Aliás, foi a luta antifascista nas «fábricas, nos campos, nas universidades, nas artes, nas ruas», realçou a parlamentar do PCP, que «criou as condições para o derrubamento da ditadura e que possibilitou profundas transformações na sociedade portuguesa».
Esse «acontecimento maior da vida e da história do povo português» que foi a Revolução de Abril e cujo significado profundo Paula Santos fez questão de realçar, assinalando que «trouxe a liberdade, a liberdade de falar sem receio de ser perseguido, preso ou torturado, a liberdade de opinião, de expressão, de organização e intervenção».
«A Revolução de Abril derrubou a ditadura fascista, a repressão e a opressão, e instaurou a liberdade e a democracia. Pôs fim à exploração e à miséria que afectava a esmagadora maioria da população e trouxe a melhoria das suas condições de vida. Pôs fim à guerra colonial e estabeleceu a paz, a libertação e independência dos povos das ex-colónias», acrescentou.
Não esquecer
Tendo a Revolução do 25 de Abril representado tudo isto, Paula Santos não deixou por isso de criticar os procuram branquear o que foi fascismo, garantindo que o PCP não o permitirá e lembrará sempre que o regime opressor de Salazar e Caetano foi «a corrupção como política de Estado por via da fusão do poder político com o poder económico, sustentado nos monopólios e nos latifúndios, o saque dos recursos nacionais a favor daqueles interesses, a acumulação de colossais fortunas por uma “meia dúzia” de ricos e poderosos, enquanto para o povo era a pobreza e a miséria, a negação das liberdades, o analfabetismo, a falta de cuidados de saúde, o colonialismo, o racismo, a guerra, a discriminação das mulheres».
E falando ainda dos que procuram desvirtuar o conteúdo e significado do 25 de Abril, procedendo a «perversões e falsificações históricas», insistiu que a Revolução assumiu como objectivos a «instauração de um regime democrático, liquidar o poder dos monopólios e promover o desenvolvimento económico geral e a reforma agrária, entregando a terra a quem a trabalha, elevar o nível de vida das classes trabalhadoras e do povo em geral, democratizar o acesso à educação e à cultura, afirmar a independência nacional, libertar Portugal do imperialismo, prosseguir uma política de paz e de amizade com todos os povos». Elementos fundamentais, no fundo, que a Constituição aprovada em 2 de Abril de 1976 veio a consagrar, «apesar dos propósitos e atentados das forças reaccionárias para o impedir».
Os ataques a Abril
Sem a crítica severa da deputada do PCP não passou a «tentativa de imposição do pensamento único, o levantamento de novas censuras, a hostilização de quem livremente emite opinião divergente daquela que é ditada pela ideologia dominante». Na sua perspectiva, estes «são perigosos elementos de ataque ao regime democrático e, por isso, têm como alvo os seus mais firmes defensores, os comunistas e outros democratas, visando silenciar a sua intervenção».
Já sobre as «velhas ideias, mascaradas de modernas» que andam por aí, com o objectivo de «subverter o regime democrático e de liquidar a Constituição, submetendo-a aos dogmas liberais» para atacar direitos e impor mais exploração e empobrecimento - disso foram bons exemplos, de resto, as intervenções da IL e do PSD, com o primeiro a apelidar o sistema político de «fantoche», e o segundo, pela voz de Rui Rio, a apelar à alteração do sistema eleitoral e à revisão constitucional –, Paula Santos refutou categoricamente tais propósitos e concepções e considerou que o que se impõe é «concretizar os direitos que a Constituição inscreve e que constituem o rumo necessário para um Portugal com futuro».
«As conquistas, valores e ideais de Abril são a solução para os problemas actuais e para o futuro do nosso País. A luta dos trabalhadores e do povo por melhores salários e pensões, pelo reforço dos direitos, pela protecção social, pelo Serviço Nacional de Saúde, pela Escola Pública, pelo direito à habitação, à cultura, aos transportes, à segurança, pela igualdade, pela protecção do ambiente, é a luta pela política alternativa, é a luta por Abril», enfatizou, reafirmando que o PCP, «contra calúnias, insultos e tentativas de intimidação», «com una inabalável confiança no futuro», saberá honrar o seu compromisso de sempre «contra o fascismo e a guerra, pela paz, a liberdade, a democracia, a justiça social, pelos valores de Abril na vida das crianças, dos jovens, dos trabalhadores, do povo português».
Povo paga factura da guerra
Num olhar atento sobre a situação presente, que é resultante em larguíssima medida de décadas da política de direita, «da submissão às imposições da União Europeia e da subalternização dos interesses nacionais aos dos grupos económicos», a presidente da formação comunista mostrou-se muito preocupada com o agravamento das condições de vida.
Uma escalada dos preços que não é dissociável do «descarado aproveitamento da guerra e das sanções» por parte dos grupos económicos, «como pretexto para maior acumulação de lucros», observou Paula Santos, não deixando de lamentar que perante tal quadro o Governo PS e os partidos à sua direita recusem uma intervenção que defenda os trabalhadores, o povo e o País e imponham a estes a «factura da guerra e das sanções».