Eles não querem parar a guerra

Albano Nunes

As potências imperialistas querem ir mais longe

Nas suas análises do capitalismo e da evolução da situação internacional, o PCP não terá acertado em tudo mas nunca se enganou no essencial. E o essencial em relação à guerra na Ucrânia reside na própria natureza agressiva do imperialismo e quando, como sublinha a Resolução Política do XXI Congresso, «os sectores mais reaccionários e agressivos do imperialismo apostam crescentemente no fascismo e na guerra como “saída” para o aprofundamento da crise com que o capitalismo se debate».

Os guardiões do pensamento único ao serviço da estratégia de domínio mundial do imperialismo norte-americano caluniam e perseguem quem quer que procure introduzir alguma contextualização e racionalidade na análise dos trágicos acontecimentos no Leste da Europa, sobretudo se, como faz o PCP, aponta claramente os EUA, a NATO e a União Europeia como os principais responsáveis.

A verdade é que os acontecimentos estão a mostrar a quem possa ver claro através da negra cortina de manipulação mediática que aí está, que foi a cavalgada de expansão da NATO e da UE para o Leste da Europa e as continuadas ameaças e provocações à segurança da Federação Russa que estão na origem da situação a que se chegou. O imperialismo queria criar na Europa um grave foco de tensão e de guerra para dar cobertura aos seus ambiciosos projectos no plano político, económico e sobretudo militar, como se viu já no Conselho Europeu de 24/25 de Março em Bruxelas (em que Biden participou!…) e se verá na Cimeira da NATO de 29/30 de Junho em Madrid, sem esquecer o perigosíssimo salto militarista da Alemanha há muito em discussão.

Mas tudo indica que as grandes potências imperialistas, agora (aparentemente) unidas frente à «ameaça» russa, pretendem ir muito mais longe. Choram lágrimas de crocodilo pelo derramamento de sangue na Ucrânia mas lançam cada vez mais achas para a fogueira da guerra e tudo têm feito para impedir um cessar fogo e negociações que ponham fim ao conflito e conduzam a uma solução de segurança e paz duradoura na Europa. Multiplicam-se acusações e ameaças incendiárias. Pelo que afirmam, Joseph Biden, Jens Stoltemberg, Ursula von der Leyen ou Josep Borrell, querem que a guerra dure o mais possível, «por muitos meses e até anos», segundo o Secretário-geral da NATO, provavelmente a pensar também na Ásia.

É inquietante que, na ânsia de criar dificuldades às relações entre a Federação Russa e a República Popular da China, os EUA, a NATO e a UE se atrevam a exigir que o governo chinês acompanhe a sua histérica campanha de sanções à Rússia, chegando mesmo a ameaçá-la de medidas de retaliação. Mais inquietante ainda é a escalada de confrontação que está em desenvolvimento em relação a Taiwan, com o fornecimento de armamento ao governo de Taipé, a concentração de poderosos meios militares na região, o apoio explícito à «independência» desta ilha chinesa em que se refugiou o bando de Chiang Kai-shek derrotado pela revolução. Lutando pelo fim da guerra na Ucrânia e por uma solução política que assegure a segurança e uma paz justa e duradoura na Europa, é necessário permanecer vigilante em relação à ofensiva militarista dos EUA e seus aliados – nomeadamente o Japão e a Austrália que acabam de participar numa reunião da própria NATO – na região Ásia-Pacífico.




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