EUA e aliados desferiram «golpe no sistema da ONU»

A exclusão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, por pressão dos EUA, mina a credibilidade do sistema da ONU, abre um «precedente perigoso» e não ajuda a resolver o conflito.

Os EUA exerceram fortes pressões sobre outros Estados

No meio de fortes pressões dos Estados Unidos da América sobre países membros da ONU, foi aprovada no dia 7 uma resolução na Assembleia-Geral das Nações Unidas para suspender a Rússia do Conselho de Direitos Humanos (CDH).

O documento foi adoptado com 93 países a favor, 24 contra e 58 abstenções e várias representações denunciaram que o texto não foi discutido previamente com os Estados membros das Nações Unidas. A politização do tema dos direitos humanos foi um dos pontos abordados pelas delegações que se opuseram à resolução.

A representação da Rússia na ONU considerou, ao intervir na Assembleia-Geral, que esse não era lugar nem momento para «uma peça de teatro». A resolução é uma tentativa dos EUA de manter o domínio e o controlo dos direitos humanos nas relações internacionais, assinalou a delegação de Moscovo.

No início da semana passada, os EUA anunciaram que procuravam a expulsão da Rússia do CDH. A suspensão do país impede-o de votar e apresentar propostas nesse organismo. Trata-se da segunda ocasião em que a Assembleia-Geral da ONU aprova uma resolução deste tipo, sendo a primeira vez em 2011, quando a Líbia foi suspensa.

A medida agora adoptada contra a Rússia é um golpe demolidor para o sistema das Nações Unidas, considerou Dmitri Polianski, diplomata da representação permanente russa na ONU. «Este é um golpe para o sistema multilateral internacional», declarou.

Outro diplomata, Guennadi Kuzmín, embaixador permanente adjunto da Rússia na ONU, classificou a decisão da Assembleia-Geral de «ilegítima e com evidentes motivações políticas». Destacou que o objectivo é castigar um Estado membro soberano das Nações Unidas que leva a cabo «uma política interna e externa independente», acusando-o de um crime não cometido (o alegado massacre de civis em Bucha, negado categoricamente e de forma repetida por Moscovo) e que nem sequer foi investigado.

Kuzmín precisou que a resolução aprovada não tem nada a ver com a situação no âmbito dos direitos humanos. Disse ser uma tentativa dos EUA de manter a sua posição dominante e de controlo total, para continuar a sua política de «colonialismo de direitos humanos» nas relações internacionais.

China e Cuba rejeitam
precedente perigoso

A China rejeitou a duplicidade, a politização e o uso dos direitos humanos para pressionar outros países e, a propósito da suspensão da Rússia do CDH, reafirmou a sua posição de defesa do diálogo construtivo e da cooperação na base da igualdade e do respeito mútuo.

Advertiu sobre o mau precedente criado pela resolução aprovada – embora tenha havido quase tantos países que votaram a favor como países que votaram contra ou se abstiveram –, pediu para considerar o assunto com calma, de forma objectiva, racional e sustentado em factos e na verdade.

«A resolução não foi redigida de maneira aberta e transparente, nem seguiu a tradição de manter consultas com todos os Estados membros para obter mais opiniões», denunciou a China, augurando maiores divisões e contradições entre as partes implicadas. Ainda assim, apelou a trabalhar na mesma direcção, a criar oportunidades para a paz e a possibilidade de negociações, em vez de avivar mais o conflito [envolvendo directamente a Rússia e a Ucrânia, esta apoiada pelos EUA e seus aliados da NATO e da União Europeia].

Também Cuba, por intermédio do seu presidente, Miguel Diaz-Canel, rejeitou a resolução das Nações Unidas contra Moscovo. A Rússia, escreveu o dirigente cubano no Twitter, é «indispensável para lograr uma solução diplomática efectiva, justa e pacífica que a actual crise na Europa requer com urgência».

Acrescentou que «as exclusões não contribuem para nada e, pelo contrário, atingem a credibilidade e a capacidade do sistema internacional de gerir a paz». Além disso, sublinhou que a suspensão da Rússia abre «um precedente perigoso e atiça ainda mais» o conflito na Europa do Leste.

 

Rejeitar a militarização,
investir no que importa

No debate sobre o Orçamento da União Europeia para 2023, os deputados do PCP no Parlamento Europeu propuseram a rejeição do aumento da dotação orçamental para a militarização, nomeadamente para o armamento, infra-estruturas, capacidade e mobilidade militar. Mas fizeram mais: insistiram na interrupção e inversão da escalada de militarização em curso na UE, materializada na chamada «Bússola Estratégica».

Para os comunistas portugueses, as verbas inscritas para a «acção externa», desde logo as que se destinam à vigilância e externalização de fronteiras e a programas de militarização e «comunitarização da segurança», devem ser realocadas para o apoio aos Estados-membros no enfrentar da situação económica e social com base no princípio da coesão económica e social, isto é, na efectivação da convergência no progresso. De fora desta reafectação ficariam as verbas destinadas à ajuda pública ao desenvolvimento, defende o PCP.

Intervindo, dia 7, sobre as orientações para o orçamento da UE, João Pimenta Lopes afirmou que elas apontam no «caminho errado». Para o deputado comunista, criticando o salto previsto nas despesas militares, como em todo o rumo militarista, «os povos não precisam nem beneficiam de mais dinheiro para políticas securitárias e para a indústria da guerra», antes «querem paz».

O que se exige, salientou, é o «reforço do orçamento, livre de condicionalismos de qualquer ordem, que responda aos problemas estruturais e conjunturais existentes», aumentando verbas para a agricultura, pescas e desenvolvimento e modernização industrial, apoiando micro, pequenas e médias empresas e defendendo rendimentos dos trabalhadores e famílias.

Em particular, salientou João Pimenta Lopes, são necessários apoios para os sectores produtivos, nomeadamente aos pequenos e médios produtores agrícolas, que respondam «à situação de seca, ao aumento dos custos de produção, e promovam a produção nacional, reduzindo a dependência externa, garantindo a soberania alimentar de cada Estado».

Nas propostas que apresentaram, os deputados do PCP defendem ainda que seja vedado o acesso a fundos da UE às empresas que não respeitem as «mais elevadas normas sociais e laborais e os direitos humanos», e que haja um aumento significativo dos apoios às regiões ultraperiféricas, como os Açores e a Madeira, à promoção do transporte público, às mulheres vítimas de violência, à promoção e protecção da diversidade cultural e à salvaguarda da democratização e dinamização da criação e fruição culturais.




Mais artigos de: Europa

Defender os direitos das comunidades ciganas

No Dia Internacional do Povo Cigano, recentemente assinalado, Sandra Pereira, deputada no Parlamento Europeu eleita pelo Partido Comunista Português, fez uma intervenção em defesa dos direitos das comunidades ciganas.

Presidenciais francesas decididas a 24 de Abril entre Macron e Le Pen

Em França, o actual chefe do Estado, Emmanuel Macron, e a candidata de extrema-direita Marine Le Pen passaram à segunda volta da eleição presidencial, a disputar no próximo dia 24. Na primeira volta, realizada no domingo, 10, em que concorreram 12 candidatos, Macron obteve 27,8 por cento (9...

A quem servem as sanções?

Quando, em 1997, no programa 60 minutos, a entrevistadora perguntou a Madeleine Albright se valiam a pena as 500 mil crianças mortas na sequência das sanções impostas ao Iraque, a então representante dos EUA nas Nações Unidas não teve pejo em dizer que sim. A aplicação de sanções como arma de...