Duas prioridades e uma mentira

António Santos

Na apresentação do orçamento federal dos EUA para 2023, na segunda-feira, Biden elencou assim, por ordem de importância e montante, três prioridades: «Primeiro, responsabilidade fiscal. Em segundo lugar, segurança e protecção. E em terceiro lugar, investimentos necessários para melhorar a América». Ou seja, o orçamento de 5,8 biliões de dólares serve, antes de mais, para satisfazer a obsessão do défice: «a maior redução do défice em um ano da história dos EUA», segundo o presidente.

Não será, contudo, graças à segunda prioridade que se cumprirá a primeira: o orçamento da Defesa sobe de 778 mil milhões para 813 mil milhões de dólares, corporizando a maior verba militar de sempre na história da humanidade, que inclui 40 mil milhões para gastar em armas nucleares e outros 40 mil milhões para financiar programas «classificados».

De que cartola se tira, então, o milagre da responsabilidade fiscal? À terceira prioridade, onde cabe todo o povo, mais o trabalho, a saúde, a educação, a cultura e a vida.

«Caras galinhas, eu sou um lobo, mas…»

É certo que Biden fez gala de um novo imposto apontado aos multimilionários que poderia arrecadar, pelas contas da Casa Branca, 360 mil milhões de dólares nos próximos dez anos. É igualmente verdade que propôs um agravamento da carga fiscal sobre os lucros das empresas de 21 para 28 por cento. «Os ricos e as empresas vão finalmente começar a pagar o que devem», prometeu Biden na mesma ocasião, «os multimilionários pagam, em média, 8% sobre os seus rendimentos (…) Eu sou um capitalista: se ganhas mil milhões, óptimo, mas paga o que é justo. Paga um bocadinho. Um bombeiro ou um professor pagam o dobro do que paga um multimilionário».

Pode parecer um plano credível para financiar os «tais investimentos necessários para melhorar a América», mas há um problema: Biden não tem a mínima intenção de o cumprir. A proposta de Orçamento não é mais que uma proposta ao Congresso, que aprova certas partes e reprova outras. Há um ano, Biden também propôs subir a carga fiscal das empresas de 21 para 28 por cento, mas dois congressistas democratas, Joe Manchin, da Virgínia Ocidental, e Kyrsten Sinema, do Arizona, juntaram-se aos republicanos para garantir o chumbo. Este ano, nada sugere que a correlação de forças possa ser mais favorável à aprovação. E Biden sabe-o.

Quando o Congresso, com o apoio do Partido Democrata, se necessário, dizimar as propostas progressistas do novo orçamento, sobrará apenas a austeridade, também conhecida como «responsabilidade fiscal» e «segurança e protecção», também conhecida como «guerra e repressão».





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