Valor e lugar da solidariedade
A guerra, qualquer que seja, arrasta consigo um cortejo de destruição, vítimas e sofrimento que exige que seja na preservação da paz e na construção de soluções políticas que se encontrem resposta para os conflitos. As guerras, todas as guerras, e não só aquelas que selectivamente se ampliam no plano mediático, carregam em si dramáticas consequências.
Guerra, seja qual for a designação técnica a que se recorra para a caracterizar, é sinónimo de inevitável destruição, mesmo aquelas a quem os centros de dominação imperialista baptizam de «ingerência humanitária» em nome da qual arrasam cidades e países. As guerras acarretam sofrimento humano mesmo quando em algumas se reduza a perda de vidas a meros «danos colaterais» e a inocentes «ataques cirúrgicos». Por isso devem ser evitadas. Porque cada vida é uma vida, sejam as centenas de civis que já pereceram na Ucrânia (mais de 600, segundo a ONU), sejam as centenas de milhar que sucumbiram na Síria, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia ou na Jugoslávia. Porque cada vida é uma vida, e a sua perda é uma perda dolorosa de gente inocente, seja de que raça for, europeus e de cor clara, ou de tez e olhos mais escuros.
Os sentimentos de solidariedade vêm ao de cima nestes momentos. Faz parte do valor da condição humana, do melhor que individual e colectivamente deve ser preservado. E, sobretudo, respeitado. A instrumentalização destes valores para as encaixar na estratégia de dominação imperialista é desprezível. Instrumentalização que faz parte da natureza do capitalismo e do carácter desumano que o determina. Funda-se na discriminação e na exacerbação de conflitos. É maquiavelicamente selectivo. Não se guia pelo que de genuíno esse sentimento humanista encerra.
Ora se desperta e exacerba, ora se silencia e desvaloriza, integrando-o a cada momento, e em cada circunstância, na operação e objectivos políticos de quem à escala do mundo tem poder para o fazer. Estimulando a comoção colectiva, manipulando o que de emocional é inato ao ser humano, pervertendo o que de mais sincero tem a dimensão solidária, convertendo-a em expressão, ainda que não percepcionada, de instigação ao ódio, de acirramento de animosidades, de confronto entre povos. A solidariedade, e o apoio humanitário, não pode ser confundida com apoio a grupos fascistas e nazis.
Paz e solidariedade são valores inseparáveis.