Eleito com o apoio da coligação de esquerda Aprovo Dignidade, Gabriel Boric tomou posse do cargo de presidente da República do Chile, numa cerimónia realizada no dia 11 de Março, na sede do Congresso Nacional, em Valparaíso, à qual assistiram delegações de vários países, na sua maioria latino-americanos.

Após a investidura, o presidente eleito viajou para a capital, Santiago do Chile, onde pronunciou, a partir do Palácio de La Moneda, o seu primeiro discurso ao país.

«Hoje, os sonhos de milhões de pessoas estão aqui a empurrar-nos para levar a bom porto as mudanças que a sociedade exige», afirmou, perante uma multidão na Praça da Constituição. Contudo, reconheceu que o cumprimento das metas propostas não será fácil porque o Chile enfrenta uma crise interna e externa.

«Vamos viver tempos desafiantes e tremendamente complexos. A pandemia segue o seu caminho com um saldo de dor e perdas de vidas e vai acompanhar-nos por muito tempo», advertiu. Acrescentou que a economia ainda se ressente e o país precisa de crescer e repartir de maneira justa a riqueza, porque quando a riqueza se concentra apenas nuns poucos a paz é muito difícil.

O novo presidente mencionou entre as prioridades do seu governo reduzir a desigualdade social, combater a delinquência, reformar a polícia e melhorar a saúde e a educação.

A respeito da crise migratória no Norte do país, prometeu redobrar o controlo das fronteiras e trabalhar com os países irmãos vizinhos (Peru e Bolívia) para abordar de forma colectiva as dificuldades que conduzem ao êxodo milhares de seres humanos.

Sobre a situação na região da Araucânia, considerou injusto falar de conflito mapuche: «Não, senhores, não é o conflito mapuche. É o conflito entre o Estado chileno e um povo que tem direito a existir. E ali a solução não é nem será a violência. Trabalharemos incansavelmente para reconstruir a confiança depois de tantas décadas de abuso e espoliação».

Boric prometeu acompanhar com entusiasmo o processo constituinte em curso visando a aprovação de uma carta magna para substituir a vigente, da época da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). «Necessitamos de uma Constituição que nos una, que sintamos como própria, que, diferentemente da que foi imposta com sangue, fogo e fraude pela ditadura, nasça em democracia, de maneira paritária, com participação dos povos indígenas», afirmou.

O novo chefe do Estado chileno manifestou a decisão de trabalhar em conjunto com os países vizinhos – Argentina, Bolívia e Peru – para enfrentar os enormes desafios que se colocam: «Somos profundamente latino-americanos e a partir deste continente faremos esforços para que a voz do Sul se volte a escutar firme num mundo em mudança».

Comunistas no governo
e no Congresso Nacional

Gabriel Boric, de 36 anos, tornou-se o mais jovem presidente da República da história do Chile e o seu governo é o primeiro constituído por uma maioria de mulheres, que dirigirão 14 dos 24 ministérios. Com importante presença de jovens, o gabinete é formado por ministros e subsecretários de diversas forças políticas.

O Partido Comunista do Chile, força maioritária da coligação Aprovo Dignidade, que apoiou Boric na eleição presidencial de finais de 2021, participa no novo executivo com três ministros e seis subsecretários de Estado. Além disso, tem dois eleitos no Senado, a câmara alta – são os primeiros senadores comunistas desde o golpe de Estado de Pinochet, em 1973 – e 12 eleitos na câmara de deputados, sendo assim uma das maiores bancadas parlamentares do Congresso Nacional.