Minneapolis, Minnesota, EUA

António Santos

Minneapolis é no Minnesota e o Minnesota é nos EUA. E os EUA planeiam gastar, só este ano, 778 mil milhões de dólares (quatro vezes o PIB português) no eufemístico Departamento da «Defesa», fabulosa rubrica onde não cabem, contudo, as crianças nem os educadores de Minneapolis. É que, para 34 000 alunos de Minneapolis, não há escola há duas semanas, porque os professores se viram forçados a fazer a primeira greve do distrito escolar em 50 anos, porque não conseguiam sobreviver só com os seus salários, porque não há dinheiro para a educação, porque há dinheiro para o maior orçamento militar da história da humanidade.

Os 4500 educadores que, há duas semanas mantêm a greve, denunciam salários de miséria, com que não é possível sobreviver. «Temos colegas a dormir dentro de carros, em tendas e nas ruas porque não têm dinheiro» explicou a dirigente sindical da Federação de Professores do Minnesota, Roberson-Moody, à 19th News.

Mas os professores também reclamam a redução do número de alunos por turma, a contratação de mais professores, auxiliares e psicólogos e mais benefícios de saúde suportados pelo distrito escolar.

Perante a intransigência dos líderes democratas da cidade e do Estado, que asseguram não haver dinheiro para satisfazer as reivindicações docentes, os professores mantêm a greve com duração indefinida, a que se somaram, esta quarta-feira, os 200 trabalhadores das cantinas escolares que, apesar da greve, continuaram a servir refeições.

Katy Bergman, uma psicóloga do distrito escolar de Minneapolis, explicava à 19th News o que a fez aderir à greve: «Os aumentos salariais são uma anedota. Depois de pagar 700 dólares em despesas com o seguro de saúde, fico sem nada. Quando digo nada, quero dizer que não posso ir ao supermercado comprar comida. Não tenho dinheiro para higiene feminina. É assim que me agradecem por cuidar da saúde mental de 309 crianças.»

Os aumentos salariais nos EUA vêm sendo totalmente absorvidos pela inflação, traduzindo-se em perdas efectivas de rendimentos. Segundo o Gabinete de Estatísticas Laborais da Casa Branca, o salário real está em queda ininterrupta desde Setembro de 2021, atingindo, em Fevereiro de 2022, perdas de 2,6 por cento.

A paralisação de Minneapolis não é única nos EUA: nas últimas duas semanas, também os professores de quatro outros distritos escolares no Illinois (George Patton e Proviso Township) e na Califórnia (Sonoma e Sacramento) convocaram greves sem fim à vista para exigir salários dignos e melhores condições laborais. Professores do Minnesota, do Illinois, da Califórnia, Estados de um país que, já dizia Tupac, «tem dinheiro para a guerra mas não consegue alimentar os pobres».




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