Para a UE, África é «tabuleiro geoestratégico»

Cerca de 70 chefes de Estado e de governo e outros dirigentes participaram, nos dias 17 e 18, em Bruxelas, na VI Cimeira União Europeia-União Africana. Prevista para 2020 e adiada devido à COVID-19, esta foi a primeira reunião euro-africana de alto nível a realizar-se de forma presencial desde 2017.

«Os povos africanos não precisam que lhes imponham modelos de organização política e económica»

A estratégia da União Europeia (UE) para África «continua assente na promoção de instrumentos e meios dedicados a um pretenso “desenvolvimento” como dimensão de uma estratégia mais ampla que visa promover a ingerência, o domínio e a agravar a dependência política, económica, ideológica e militar».

A constatação é de João Pimenta Lopes, deputado do PCP no Parlamento Europeu (PE), a propósito da VI Cimeira União Europeia-União Africana (UA), que decorreu nos dias 17 e 18, em Bruxelas.

Defendeu: «A África e os povos africanos não precisam que lhes imponham modelos de organização política e económica. Precisam de uma efectiva cooperação para o desenvolvimento, assente no respeito pela soberania nacional, da independência política e económica, do direito de cada povo a decidir do seu presente e futuro, de definir e construir o seu Estado e o seu projecto próprio de desenvolvimento».

E realçou que, embora a cimeira se afirme «uma parceria renovada, com nova dinâmica, crescimento, prosperidade partilhada e estabilidade», a história e a política da Europa para África dissociam-se destas afirmações e não permitem omitir que «a UE olha para o continente africano como um tabuleiro geoestratégico onde se disputam recursos, mercados e zonas de influência».

África vai produzir
vacinas anti-COVID

O presidente do Senegal e da UA, Macky Sall, pediu à UE que «passe das palavras aos actos, face ao desejo de tornar o continente africano num parceiro privilegiado do bloco comunitário». E assegurou que «temos uma oportunidade histórica de ouro para mostrar através das nossas ações que renovamos essa parceria».

Os líderes da UE e da UA chegaram a acordo sobre um «grande e ambicioso» plano de investimentos – públicos e privados – para África, de 150 mil milhões de euros ao longo dos próximos sete anos, anunciou a presidente da Comissão Europeia. Ursula von der Leyen não explicou como seriam mobilizadas as verbas prometidas mas insistiu que «é o momento de transformar a nossa visão partilhada em realidade, é o momento de nos tornarmos operacionais».

Este é o primeiro plano regional no quadro da nova estratégia de investimento da UE, denominada Global Gateway e entendida como uma resposta para «conter» a China e o seu projecto Nova Rota da Seda, em curso à escala mundial.

A cimeira, em que participaram cerca de 70 dirigentes europeus e africanos, aprovou uma declaração conjunta que, entre outros pontos, sublinha que o desafio imediato é «garantir o acesso justo e equitativo às vacinas» contra a COVID-19. A produção própria de vacinas por parte de alguns países africanos contam-se entre os objectivos proclamados.

O director-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Ghebreyesus, afirmou numa cerimónia em Bruxelas que «nenhum outro evento como a pandemia de COVID-19 demonstrou que depender de algumas empresas para fornecer bens públicos globais é uma solução limitada e perigosa». Realçou ainda que, «a médio e longo prazo, a melhor forma de abordar as emergências sanitárias e alcançar uma cobertura sanitária universal é aumentar significativamente a capacidade de todas as regiões fabricarem os produtos de saúde de que necessitam, tendo como principal objetivo o acesso equitativo».



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