Das pouco surpreendentes notícias que chegam de França
O governo francês assumiu, no passado dia 1 de Janeiro, a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, que decorrerá até ao final do mês de Junho.
Ao analisarmos o programa desta presidência verificamos que, com uma ou outra nuance, nada foge à cartilha neoliberal da UE, nem ao guião da «cruzada» federalista e militarista do presidente francês Emmanuel Macron.
Partindo de uma enviesada e deturpada análise da realidade que é a União Europeia e das suas políticas, ao referir que «desta crise, o modelo europeu demonstrou os seus pontos fortes», conclui, nesse seguimento, que para defender este mesmo modelo a «Europa [isto é, a UE] deve afirmar a sua soberania, ser livre de tomar as suas próprias decisões, ter controlo sobre o seu próprio destino».
Após este introito não haverá, certamente, qualquer surpresa naquilo que esta presidência definiu como prioridades.
Desde a dita construção de um capitalismo falsamente apresentado como «responsável» e «sustentável», mas efectivamente ancorada na liberalização dos mercados, incluindo em mecanismos como o mercado de carbono, na tributação por baixo das grandes multinacionais, no aprofundamento das denominadas União dos Mercados de Capitais ou do Mercado dos Serviços Digitais. Passando pelo aprofundamento da militarização da UE e da estratégia de confrontação no plano internacional, incluindo com países como a China ou a Rússia. Finalizando com uma tentativa de maquilhagem social das políticas da UE, ao definir como prioridade, ainda que de forma tímida, os instrumentos do dito Pilar Europeu dos Direitos Sociais e do seu plano de acção, que visam nivelar por baixo os direitos sociais e laborais como é o caso da chamada Directiva para Salários Mínimos Adequados.
Ingénuo seria quem achasse que, com todo o seu percurso marcado pelos mais vis ataques aos direitos democráticos, incluindo os sociais e laborais, aos serviços públicos e pela promoção da sua liberalização e privatização, Macron quereria para a UE algo diferente daquilo que tem promovido em França.
Bem pelo contrário, para o presidente francês o reforço da «soberania» que advoga, significa o reforço dos instrumentos federalistas de domínio do directório da UE – em que se inclui a França – e uma maior subordinação dos países da chamada «periferia» aos seus interesses e abusos, naturalmente de acordo com a ambição e necessidades do grande capital francês.
Para Macron, cuja presidência do Conselho da UE decorrerá em simultâneo com umas eleições presidenciais com resultados, para já, incertos, estes seis meses serão utilizados como rampa de promoção perante um capital que, se necessário for, não hesita dar continuidade ao neoliberalismo através das forças francesas mais reaccionárias.
É, também, aos objectivos desta presidência e às políticas da própria UE que os trabalhadores e os povos da Europa, incluindo de França, deverão dar o mais determinado combate.