No Natal e no Ano Novo milhares vão estar em greve
Os trabalhadores da distribuição comercial, da Randstad, da ViaPorto, da STCP e de outras empresas, face à falta de progresso das posições patronais, decidiram fazer greves, mesmo em período de festas.
Perante a ofensiva patronal que não pára, a resposta é a luta
Para hoje, dia 23, está convocada greve no armazém da Science4you, com concentração no exterior das instalações, no MARL (Loures). A luta, como informou o Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), foi aprovada por unanimidade, num plenário, e visa exigir a negociação do caderno reivindicativo.
Neste constam, nomeadamente: um aumento salarial de três euros por dia, para todos, sem discriminações; integração na Science4you de todos os trabalhadores das empresas de trabalho temporário (ETT) em postos de trabalho permanentes; fim da obrigatoriedade de o pessoal das ETT pagar «portagem» para aceder ao local de trabalho; aumento do subsídio de refeição, sem discriminações; fim do pagamento dos subsídios de férias e de Natal em duodécimos; melhores condições de trabalho, designadamente, colocando assentos nos postos de trabalho fixos.
Grandes lucros, baixos salários
A presidente da Direcção Nacional do CESP apelou, esta segunda-feira, a que os trabalhadores da grande distribuição comercial façam greve, no dia 24, amanhã, para demonstrarem «ao patrão, àquele que tem lucrado milhões e milhões à custa do vosso trabalho, que é preciso mudar, é preciso aumentar os salários, valorizar as carreiras e garantir nos horários uma conciliação da vida profissional com a vida pessoal».
Numa mensagem divulgada na página do sindicato na rede social Facebook, Filipa Costa assinalou que o contrato colectivo de trabalho não é revisto desde 2016, o que «agravou os baixos salários neste sector, a precariedade, os horários desregulados, e muito as carreiras profissionais».
Trabalhadores com 10 ou 15 anos de serviço «acabam por auferir o salário mínimo nacional ou pouco acima deste», o que «desvaloriza os trabalhadores».
A 7 de Dezembro, o CESP reuniu-se com a associação patronal APED, mas esta permanece «intransigente relativamente à negociação», não apresenta proposta salarial e insiste em alterar o contrato colectivo de trabalho para nele incluir o «banco» de horas, a redução do valor do trabalho suplementar e uma desvalorização das carreiras, diminuindo o leque salarial entre quem inicia o trabalho e quem já tem vários anos de serviço. «Não podemos aceitar esta situação», protestou a dirigente.
Um pré-aviso de greve próprio foi apresentado para a cadeia FNAC, que não avança nos pontos do caderno reivindicativo em negociação. A FNAC «quer ser vista como tendo os melhores especialistas, mas quer continuar a pagar o salário mínimo nacional», acusou o CESP, na «folha sindical» de Dezembro.
«A Randstad e os clientes todos os anos anunciam lucros, nalguns casos de valores que são completamente inaceitáveis, para quem depois pratica e estimula o trabalho a pataco», afirmou o Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas, num comunicado a apelar à greve nos dias 24 e 31 de Dezembro, em todos os «projectos» (como são designados os serviços de centro de contacto, prestados a grandes empresas).
Com tal prática, ganham os clientes e ganha a Randstad, mas a remuneração dos trabalhadores «tem vindo sempre, apenas, a sofrer alterações com os aumentos do salário mínimo nacional», referiu o SIESI.
No «projecto EDP», por exemplo, os salários deveriam ser superiores aos praticados hoje em cerca de 200 euros, para manter a diferença que havia em 2011 face ao valor do salário mínimo nacional.
Contra a redução do pagamento do trabalho em dias feriados, já imposta pela direcção da Otis Elevadores, o SIESI convocou greve para 1, 8 e 25 de Dezembro e para 1 de Janeiro, na delegação do Algarve, «contra a discriminação que se verifica, mas também para que tal intenção não alastre ao resto do País», como se refere num comunicado da Comissão Intersindical da Fiequimetal na empresa.
Transportes no Porto
Para dias 30 e 31, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário convocou greve na ViaPorto, a empresa do Grupo Barraqueiro que explora o Metro do Porto, para exigir respeito pela negociação colectiva, aumento dos salários e melhoria das condições de trabalho.
Na STCP, o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Urbanos e Rodoviários do Norte estendeu até Abril a greve às últimas quatro horas de cada dia de trabalho, que vigora desde Outubro até ao final do ano, «para que os trabalhadores possam continuar a manifestar o seu descontentamento», reclamando aumentos salariais justos, que não se fiquem pelos 15 euros que a administração decidiu.
Insulto com 0,4 por cento
Com um resultado próximo dos mil milhões de euros, em 2020 e nos primeiros nove meses de 2021, a Caixa Geral de Depósitos obteve «os maiores lucros de toda a Banca em Portugal» e entregou ao Estado um dividendo extra de 300 milhões, mas, para a sua administração, o trabalho que gerou esses resultados «vale a miserável recompensa de 0,4 por cento de aumento salarial».
Num comunicado, o Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD (STEC) recordou ainda a «contínua deterioração e degradação das condições de trabalho» e assegurou que «a resposta só pode ser a reivindicação e a luta».
Está convocada greve para dias 30 e 31 de Dezembro.
Greve nos armazéns
Em greve, no dia 20, com uma adesão de 95 por cento, trabalhadores do armazém do LIDL na Marateca (Setúbal) realizaram uma concentração (na foto) junto da sede da empresa, no Linhó (Sintra), repudiando as posições da administração e da APED e exigindo valorização dos salários e das carreiras.
No mesmo dia e com objectivos semelhantes, fizeram greve os trabalhadores dos armazéns do DIA Portugal (Minipreço), com índices de adesão menores, em Torres Novas, e muito elevados, em Campo (Valongo) e Alverca.
Primeira vez na ECM
Pela primeira vez desde há 30 anos, uma greve parou o enchimento da Empresa de Cervejas da Madeira, em Câmara de Lobos. A luta, organizada pelo Sintab e decidida em plenários a 18 de Novembro (iniciando-se logo uma greve ao trabalho suplementar), teve lugar nos dias 15 e 16.
Com os trabalhadores da ECM (propriedade do Grupo Pestana) esteve, no início da greve, Herlanda Amaro, primeira candidata da CDU, na região, para as eleições legislativas de 30 de Janeiro, solidarizando-se com a exigência de aumentos salariais, negados desde 2019 e absorvidos, em 2018, com a retirada de subsídios.