O Expresso não engana
A manchete da última edição do Expresso é todo um tratado sobre como é que se procura transformar a opinião publicada na dita opinião pública. A principal notícia tem por título «Crise política favorece Chega e prejudica PCP» e baseia-se supostamente numa sondagem também divulgada neste semanário. Acontece que, apesar da sondagem não autorizar propriamente o título referido, designadamente quando não identifica outra força política – o BE - com uma «queda» bastante superior à do PCP/CDU, isso não impediu o título martelado que o Expresso decidiu apresentar.
Não importa discutir aqui o mérito, ou mesmo o rigor, da dita sondagem, e muito menos esgrimir argumentos em torno de quem é mais ou menos prejudicado pelas campanhas que se lançaram após a não aprovação do Orçamento para 2022 contra os partidos que, à esquerda do PS, se lhe opuseram. Mas não podemos deixar de assinalar a forma habilidosa umas vezes, e descarada noutras, em como os principais órgãos de informação, neste caso, como todo um grupo económico no sector da Comunicação Social – o Grupo Impresa – se posiciona e intervém, a partir de objectivos que não consegue esconder na vida política nacional. Relembremos a este propósito todo o tratamento dado pela SIC à CDU na última campanha eleitoral (autárquicas) e que foi justamente desmascarado nas páginas do Avante!, isto só para não ir escalpelizar décadas de intervenção deste grupo económico – que envolve o Expresso, a SIC, a Visão, etc – animada por um indisfarçável preconceito anticomunista.
Atrevo-me a dizer que a mensagem que o Expresso escolheu para projectar na capa desta semana já estava escolhida antes da dita sondagem. Aliás, é uma mensagem que tem vindo, mesmo antes da «crise política», a ser sistematicamente difundida e que passa pela sugestão de uma correlação entre o crescimento de forças reaccionárias e o «recuo» do PCP. Uma tese que encanta a «todos», desde logo às forças reaccionárias, mas também ao PS que, a partir desse engodo (o «perigo do Chega»), procura encher o saco em direcção à maioria absoluta que ambiciona.
António Costa e o PS, sabiam o que estavam a fazer quando, a 2 de Setembro deste ano, o Governo PS decidiu homenagear Francisco Pinto Balsemão. Estávamos em vésperas de eleições autárquicas e havia quem já desejasse a antecipação das legislativas.