Aprovados diplomas do PCP com medidas em defesa da pesca e dos pescadores
Dois diplomas do PCP dirigidos ao apoio e valorização da pesca obtiveram, dia 12, a aprovação do Parlamento. Um deles prevê a criação de um regime de subsídio à pequena pesca artesanal e costeira e aquicultura.
Em votação final global, o texto apresentado pela Comissão de Agricultura e Mar, a partir do projecto de resolução comunista, recomenda ao Governo que crie, num período não superior a três meses, um regime de subsídio àquele sector da pesca que «estabilize o enquadramento legal do desconto no preço final da gasolina e do gás do petróleo liquefeito (GPL), equivalente ao que resulta da redução da taxa aplicável ao gasóleo, sem que o mesmo fique dependente de aprovação em cada Orçamento do Estado».
Ao lado do PCP no voto favorável a esta medida de apoio à pequena pesca artesanal e costeira e à pequena aquicultura estiveram PEV, PS, BE, PSD, CDS, Chega e a deputada não inscrita Joacine Katar Moreira. Contra votaram PAN e Iniciativa Liberal, optando a deputada não inscrita Cristina Rodrigues pela abstenção.
A medida assume enorme relevância na medida em que a pequena pesca artesanal e costeira, bem como a pequena aquicultura, devido às características específicas das suas embarcações e equipamentos, recorrem frequentemente ao uso de gasolina ou de gás de petróleo liquefeito (GPL), em detrimento do gasóleo, que é usado sobretudo por embarcações maiores.
Com o texto agora aprovado mantido é, assim, não apenas o desconto no preço final da gasolina e GPL consumidos na pesca, equivalente à redução da taxa aplicável ao gasóleo – medida, aliás, inscrita desde 2017 nos Orçamentos do Estado por proposta do PCP -, como passa a ser assegurada a sua estabilidade temporal e o respectivo enquadramento legal.
Travar declínio
«Programa em defesa da pesca e dos seus profissionais», assim se chama o segundo diploma do PCP agora aprovado, também este redigido sob o desígnio da defesa e incentivo à produção nacional e ao controlo dos desequilíbrios da balança alimentar. O texto final alcançou luz verde com a abstenção de PS, PAN, PSD e CDS, o voto contra da IL e os votos favoráveis das restantes bancadas.
Como referem os deputados comunistas no seu projecto de resolução, uma parte muito significativa do pescado consumido no nosso País resulta de importações, assistindo-se a uma redução quase sistemática das capturas ao longo dos últimos dez anos. É disso exemplo o valor de capturas no continente relativo a 2020, correspondente apenas a 68% das capturas registadas em 2011, não atingindo as 100 mil toneladas.
Sintomático é ainda o facto de ter havido, entre 2011 e 2019, segundo os dados mais recentes publicados pelo INE, citados no diploma comunista, uma redução em 11% do número de pescadores inscritos nos portos nacionais (menos 1777). Não menos preocupante é a perda, no Continente, nos últimos dez anos, de 660 embarcações na frota nacional de pesca, sobretudo na pequena pesca (menos de 12 metros).
Em suma, uma tendência de abandono da actividade piscatória, que se traduz numa redução do valor das capturas, do número de trabalhadores da pesca e do número de embarcações.
A reclamar, por isso, uma inflexão de rumo e o incremento de medidas como as propostas pelo PCP e agora aprovadas (ver caixa), nomeadamente quanto a uma revisão em alta das quotas de pesca para o nosso País, bem como dos regimes de apoio e compensação pela perda de rendimentos motivada pelos constrangimentos impostos ao sector (os longos períodos de defeso ou a inoperacionalidade das barras).
Por mais investigação e apoios
Contemplar no OE para 2022 o reforço do orçamento do IPMA é uma das recomendações ao Governo que consta do diploma comunista aprovado pelo Parlamento. Trata-se de ampliar a dotação orçamental necessária às despesas de pessoal por forma a garantir e reforçar a investigação científica dirigida ao conhecimento dos recursos vivos marinhos, eliminando a precariedade laboral e a assegurar, em permanência, a tripulação e acompanhamento científico adequado afecto à operação dos Navios de Investigação associados a este Instituto.
Ao Governo é sugerido, por outro lado, que institua um regime de apoio à perda de rendimento dos pescadores ao longo da totalidade dos períodos prolongados de impossibilidade do exercício da profissão.
A resolução aprovada propõe, por fim, que no OE para 2022 seja previsto o incremento de um programa alargado de formação financiada para o sector da pesca.