A guerra que prossegue
Ao que consta ou parece constar, a guerra chamada fria entre o Ocidente capitaneado pelos Estados Unidos e a União que era soviética terminou há já uns tempos com a vitória ocidental: a Rússia tornou-se tão capitalista quanto as circunstâncias vêm permitindo e o Ocidente vive porventura mais tranquilo. Ainda assim, porém, esta maior tranquilidade não gerou muito maior distensão perante a ameaça real ou suposta que o socialismo que grassava de Berlim a Vladivostoque explicava. Assim, os «media» ocidentais continuam a disparar as suas peculiares granadas e o bombardeamento regular do socialismo vencido e defunto prossegue aparentemente com o entusiasmo do costume ou pouco menos. Entende-se: é de regra que o empenhamento no agrado dos patrões, sejam eles de que tipo forem, não se extinga com a conclusão do serviço. Bem pelo contrário, o interesse dos mandados é que se mantenham as tensões ou os objectivos que lhes garantem a sobrevivência, isto é, o negócio. Também a isto se pode chamar preservação do mercado.
A fase seguinte
É nestas circunstâncias que podemos assistir à manutenção em antena de teleprogramas de propaganda anti-soviética: aparentemente é o que pode designar-se por «bater em mortos». Contudo, não será absurdo que consideremos que aos olhos do triunfante capitalismo euroatlântico as razões do seu triunfo não sejam tão firmes quanto nos parecem a nós, meros súbditos. De onde não só uma constante vigilância, mas também a permanente hostilização de indícios de respirações suspeitas que possam indiciar tendências de sobrevivência: nisto de convicções e movimentos «de esquerda» nunca se pode confiar em que estejam efectiva e definitivamente defuntos. Ainda no serão do passado domingo foi transmitido pela RTP2, canal com especiais responsabilidades, um documentário (chamemos-lhe assim) que nos recordava como o socialismo soviético, ou a tentativa que ele constituiu, foi feio e mau. É que mesmo agora, com a URSS defunta há já um punhado de anos, é prudente manter o cadáver debaixo de fogo, não vá ele constituir-se em exemplo. E a raiz da questão é simples e iniludível: é que o capitalismo em que o Ocidente livre está imerso tresanda de injustiças sociais e também de violências várias que vão de brutalidades internas até ao desencadear de guerras em diversos lugares do mundo. Deste mundo que, vendo bem e não apenas na nossa imediata proximidade, já não tem condições para o suportar por muito tempo, pelo que se torna natural e imperativo que passemos à fase seguinte. Qual? Um grande poeta espanhol disse-o há já uns anos: «-Nosotros le lamamos Socialismo».