«Pegasus», factos e perguntas

Carlos Gonçalves

Na mi­to­logia grega, Pe­gasus era um ca­valo branco vo­ador filho de Po­seidon e Me­dusa, sím­bolo de ima­gi­nação e imor­ta­li­dade. Na ac­tu­a­li­dade é um vírus elec­tró­nico de es­pi­o­nagem (spyware) pro­du­zido pela em­presa is­ra­e­lita NSO, para ins­ta­lação se­creta em te­le­mó­veis, que vai muito mais longe do que até agora na mo­ni­to­ri­zação das co­mu­ni­ca­ções (te­le­fone, textos, in­ternet, lo­ca­li­zação, con­tactos) e con­trolo da câ­mara e do mi­cro­fone, trans­for­mando cada apa­relho em dis­po­si­tivo de vi­gi­lância que envia toda a in­for­mação, de forma se­creta e en­crip­tada, para um ou mais ser­vi­dores de es­pi­o­nagem.

Em Julho, a no­tícia sobre o Pe­gasus em 17 grandes jor­nais, al­guns com li­ga­ções às cam­pa­nhas im­pe­ri­a­listas (Washington Post, Guar­dian,) re­ve­lava os amigos de Is­rael e dos USA que usam o spyware para es­piar (apenas!) 5000 di­ri­gentes, ini­migos e amigos, es­tran­geiros e na­ci­o­nais, opo­si­tores, ac­ti­vistas, jor­na­listas.

A NSO é uma «start up» de software de es­pi­o­nagem com 700 in­for­má­ticos, 200 ex-mem­bros da uni­dade 8200 do Shin Bet (es­pi­o­nagem in­terna), cé­rebro de crimes si­o­nistas em Gaza, na Síria, etc.. A venda de fer­ra­mentas de ci­be­res­pi­o­nagem é de­ci­dida pela NSO com o Mi­nis­tério da De­fesa de Is­rael e, como acon­tece com ou­tros sis­temas de armas, é um ins­tru­mento da po­lí­tica ex­terna do Es­tado si­o­nista.

Outra questão re­le­vante é que o Pe­gasus está pre­pa­rado para a trans­fe­rência si­mul­tânea de dados para os es­piões que o operam e para a NSO e a Mossad (es­pi­o­nagem ex­terna e força as­sas­sina de Is­rael). Isto é, o Pe­gasus faz es­pi­o­nagem de «falsa ban­deira», por in­ter­médio de ter­ceiros mas apro­vei­tando a Is­rael e aos USA.

Claro que, sobre a venda do Pe­gasus, a NSO li­mita-se ao ci­nismo de que os seus cli­entes se com­pro­metem com fins de in­ves­ti­gação cri­minal e se­gu­rança na­ci­onal, no res­peito pelos di­reitos hu­manos, (como no as­sas­sínio de Kashog pelos sau­ditas?).

Em ma­téria de es­pi­o­nagem im­porta não des­cartar hi­pó­teses, ficam duas per­guntas. A mi­nu­ciosa des­crição me­diá­tica do as­sas­sínio do ci­en­tista ira­niano Fakh­ri­zadeh pela Mossad e as laudas sobre o Pe­gasus não serão ma­no­bras de di­versão para novas ope­ra­ções da Mossad e da CIA? A no­tícia do Ex­presso de que, em Por­tugal, o Pe­gasus foi pro­posto pela NSO mas não foi ad­qui­rido, será mesmo ver­da­deira?




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