«Recebemos muitas manifestações de solidariedade em defesa do Partido»

Quando o Avante! falou com a se­cre­tária in­ter­na­ci­onal do Par­tido Co­mu­nista Alemão, Re­nate Koppe, ainda não se ti­nham re­a­li­zado as elei­ções par­la­men­tares do pas­sado dia 26 de Se­tembro e já o pro­cesso mo­vido pelo Co­mité Fe­deral Elei­toral de não ad­mitir a par­ti­ci­pação do PCA tinha sido der­ro­tado pelo Tri­bunal Cons­ti­tu­ci­onal.

Apesar disso, a en­tre­vista (re­a­li­zada no de­curso da Festa do Avante!) mantém-se ple­na­mente ac­tual, tal como per­ma­nece inal­te­rado o in­te­resse em co­nhecer me­lhor o que de­fendem e como in­tervêm os co­mu­nistas no país que de­ter­mina muito do que são as pri­o­ri­dades e a acção do bloco im­pe­ri­a­lista da União Eu­ro­peia.

A ten­ta­tiva de ile­ga­li­zação do PCA foi frus­trada

Em Julho deste ano, o Co­mité Fe­deral Elei­toral de­cidiu não ad­mitir a par­ti­ci­pação do Par­tido Co­mu­nista Alemão nas elei­ções par­la­men­tares. O que se passou?

Dis­semos desde a pri­meira hora que a de­cisão do Co­mité Fe­deral Elei­toral era in­cons­ti­tu­ci­onal e o pró­prio Tri­bunal Cons­ti­tu­ci­onal deu-nos razão. Na base deste pro­cesso, que era ad­mi­nis­tra­tivo, es­tava uma ten­ta­tiva de facto de ile­ga­li­zação do Par­tido Co­mu­nista Alemão. Só nos deram três dias para re­agir, es­pe­rando que o prazo não fosse su­fi­ci­ente para que re­cor­rês­semos para os tri­bu­nais.

 

Como re­a­giram a isto?

A nossa pri­meira acção foi de âm­bito legal, através da in­ter­po­sição de um re­curso para o Tri­bunal Cons­ti­tu­ci­onal. Ao mesmo tempo, de­nun­ciámos pu­bli­ca­mente a si­tu­ação e ape­lámos à so­li­da­ri­e­dade, tanto no país como junto de par­tidos e or­ga­ni­za­ções de todo o mundo. Na Ale­manha, re­ce­bemos mais de uma cen­tena de ma­ni­fes­ta­ções de so­li­da­ri­e­dade, por parte de sin­di­catos, mo­vi­mentos an­ti­fas­cistas e al­gumas or­ga­ni­za­ções do pró­prio par­tido «A Es­querda». A nível in­ter­na­ci­onal, re­co­lhemos mais de 70 apoios de par­tidos [o PCP foi um deles], or­ga­ni­za­ções e en­ti­dades di­versas.

Com a de­cisão do Tri­bunal Cons­ti­tu­ci­onal, que re­co­nheceu a nossa razão, caiu o pro­cesso do Co­mité Fe­deral Elei­toral. Mas mais im­por­tante do que a pos­si­bi­li­dade de po­dermos par­ti­cipar nas elei­ções par­la­men­tares é a ma­nu­tenção do es­ta­tuto de par­tido po­lí­tico, que era pre­ci­sa­mente aquilo que era vi­sado e que es­tava posto em causa.

 

Em que quadro po­lí­tico, eco­nó­mico e so­cial se trava esta ba­talha elei­toral?

A Ale­manha, tal como todos os países ca­pi­ta­listas, sofre os efeitos da crise es­tru­tural do ca­pi­ta­lismo, agra­vada pela si­tu­ação pan­dé­mica. Os pa­cotes de «ajudas» apro­vados no âm­bito da crise da COVID-19 foram em grande parte des­ti­nadas às grandes em­presas e não aos tra­ba­lha­dores. Assim, neste mo­mento há mi­lhões de de­sem­pre­gados na Ale­manha e muitos ou­tros, tendo em­prego, en­con­tram-se em si­tu­a­ções muito pre­cá­rias ou em lay-off. Também a po­breza não cessa de au­mentar.

Es­tamos con­ven­cidos de que após as elei­ções a si­tu­ação vai con­ti­nuar a agravar-se.

 

Re­sol­vida a im­pos­si­bi­li­dade legal, quais as pri­o­ri­dades do Par­tido Co­mu­nista Alemão para as elei­ções par­la­men­tares?

Nós não temos qual­quer ilusão acerca das nossas pos­si­bi­li­dades de eleger de­pu­tados no Par­la­mento Fe­deral. A nossa in­tenção é apro­veitar a cam­panha elei­toral para afirmar as po­si­ções do Par­tido. Um dos nossos lemas fun­da­men­tais é «não vamos pagar a vossa crise», pois en­ten­demos que os custos da crise do ca­pi­ta­lismo deve ser pago pelo ca­pital e não pelos tra­ba­lha­dores. Outra questão fun­da­mental para nós é a da guerra e da paz. Nesta área in­ter­vimos sob o lema «paz com a China e com a Rússia, saída da NATO».

 

Para lá das elei­ções, qual a si­tu­ação do Par­tido Co­mu­nista Alemão e as suas pri­o­ri­dades de in­ter­venção?

A ac­ti­vi­dade prin­cipal do Par­tido Co­mu­nista Alemão não tem, de facto, a ver com as elei­ções: é na in­ter­venção so­cial que nos afir­mamos e é esta que pri­o­ri­zamos. Para além do mo­vi­mento pela paz, que para nós é uma área es­sen­cial, atri­buímos uma grande im­por­tância à in­ter­venção sin­dical, com des­taque para o sector da saúde e à luta contra a sua pri­va­ti­zação. De mo­mento, estão em curso vá­rias greves neste sector, não tanto em torno de rei­vin­di­ca­ções sa­la­riais, mas so­bre­tudo pela me­lhoria das con­di­ções de tra­balho.

 



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