Eleições livres

Manuel Gouveia

As eleições na Rússia não foram livres nem democráticas, é uma frase que sendo verdadeira tem que ser dita hoje com muitíssimo cuidado, devido às más companhias em que nos iremos encontrar. Desde logo, importa sublinhar que uma das razões porque não o foram é exactamente a mesma porque não o são as eleições realizadas em qualquer país capitalista: a classe dominante, a burguesia, usa o seu poder económico, político e cultural, o seu domínio da comunicação social, a sua capacidade aquisitiva, o seu controlo do aparelho de Estado, e usa-o no sentido de promover o sentido de voto que melhor assegure os seus interesses de classe.

Não precisamos de ir até à Rússia para ver essa perversão da democracia: basta olhar para Portugal, para a forma como a campanha da CDU é discriminada ou para a composição política dos diferentes painéis de comentadores. Ou basta ver como as eleições russas são tratadas em Portugal, com a Comunicação Social a tentar esconder o facto do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) ter subido extraordinariamente o seu resultado, confirmando-se como o segundo maior partido no país.

A outra dimensão em que não o foram é devido à manipulação concreta dos votos expressos, muito facilitada pelos mecanismos de voto digital que dificultam o controlo do processo e a sua transparência. As acusações concretas do PCFR apontam para um empolamento artificial do resultado do Rússia Unida à custa do resultado do PCFR. (E já agora, não seriam os observadores coloniais que a União Europeia reivindicou que iriam resolver este problema, pois estes iriam, no essencial, tentar promover os interesses imperialistas da UE e dos seus nano-satélites russos).

Este último tipo de manipulações é menos frequente em Portugal, mas também acontece, vejamos por exemplo «eleições» recentemente realizadas em empresas, descaradamente manipuladas depois de retirar o direito de controlo aos trabalhadores. E se não acontece mais é só graças ao facto de termos conquistado e conseguido manter na generalidade das eleições a obrigatoriedade do voto presencial, a composição plural das mesas e o direito de fiscalização pelos representantes da CDU.

Daí ser tão importante o papel de todos os camaradas e amigos que no Domingo vão estar nas mesas eleitorais deste país a defender cada voto na CDU.




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