Golpes militares estão de volta…

Carlos Lopes Pereira

Ocorreu no Sudão, esta semana, a mais recente tentativa de golpe de Estado em África. Cartum anunciou que o exército frustrou uma intentona e prendeu um grupo de oficiais simpatizantes do antigo presidente Omar Al-Bashir. Depois de 30 anos no poder, Al-Bashir foi deposto pelas forças armadas em Abril de 2019, no seguimento de grandes manifestações populares contra a subida de preços do pão, a pobreza, o desemprego, a repressão. Nos últimos meses, face às políticas económicas e sociais «muito severas» impostas pelo governo de transição, a mando do Fundo Monetário Internacional, os sudaneses saíram de novo às ruas e protestam…

Poucos dias antes, teve lugar na República da Guiné um golpe militar, esse com «êxito»: o governo foi dissolvido, a Constituição suspensa e o presidente Alpha Condé detido. Apesar das prontas condenações dos acontecimentos em Conakry, por parte das Nações Unidas, União Africana, Comunidade Económica da África Ocidental (Cedeao) e União Europeia, restam poucas dúvidas de que a golpada obedeceu a interesses estrangeiros. O líder golpista é o tenente-coronel Mamady Doumbouya, comandante das forças especiais do exército guineense. Recebeu formação em Israel, serviu na Legião Estrangeira Francesa e não esconde os laços privilegiados com o Africom, o comando militar dos Estados Unidos da América para África. A Guiné, antiga colónia francesa, é um dos maiores produtores mundiais de bauxite (alumínio) e rica em outros recursos minerais, do ferro ao níquel e urânio. Na exploração da bauxite, manteve até agora boas relações com a China e a Rússia – o que Washington considera intolerável.

Noutra ex-colónia francesa, o Chade, fiel aliado de Paris, tiveram lugar em meados deste mês, em N’Djamena, protestos populares contra a junta militar que dirige o país desde a morte do presidente Idriss Déby Itno, em Abril, em combate contra «forças rebeldes» baseadas na Líbia. Um Conselho Militar de Transição, formado por generais e liderado por Mahamat Idriss Déby, filho do antigo chefe do Estado, assumiu estão o poder e prometeu eleições «livres e democráticas» em 18 meses. Agora, nas ruas da capital, manifestantes contestam os militares golpistas e a França que os apoia, clamando que «o Chade não é um reino».

E há novas do Mali, onde houve não um mas dois golpes de Estado desde Agosto de 2020, com os militares a assumir o poder. No início desta semana, a ministra da Defesa francesa, Florence Parly, visitou Bamako e encontrou-se com o homólogo maliano, coronel Sadio Camará. Parly disse aos jornalistas que tinha tido uma «conversa franca, directa e completa» e reafirmou que Paris não aceitará um eventual acordo do Mali com uma empresa de segurança russa, sugerindo que a França poderá retirar as suas tropas do país. Os militares malianos não comentaram mas, previamente, tinham feito saber que não aceitam imposições. Desde 2013 que, a pretexto do combate ao terrorismo no Sahel, a França tem milhares de soldados no Mali e noutros países da região. Há também forças militares dos EUA, da União Europeia e das Nações Unidas.

O que a situação hoje em África indica é que, cada vez mais, os povos do continente rejeitam golpes, ingerências e intervenções militares estrangeiras e aspiram – como todos os povos do mundo – à paz, à soberania, ao desenvolvimento, ao progresso social.




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