Cravo Vermelho ao peito
Catarina Vaz Pinto, vereadora do PS em Lisboa em fim de mandato, dessas que metem o cravo vermelho ao peito em todas as cerimónias oficiais, decidiu ressuscitar processos, com três e mais anos, contra militantes comunistas pelo exercício de propaganda política.
Em meia dúzia de dias, aviou três decisões condenando jovens comunistas a admoestações, porque adulteraram a estética de muros de suporte de terras, como se fosse possível pintar uma qualquer parede sem lhe alterar a estética.
Lidas as decisões, que aliás só diferem no nome dos arguidos e no local da pintura dos murais, ficamos com duas ou três questões em aberto.
A primeira, a de saber qual a razão de uma vereadora do PS estar à pressa a despachar processos, sem ouvir testemunhas que foram indicadas, com a decisão sumária de «limite-se o direito de propaganda».
A segunda, é a de não perceber se a vereadora do PS anda distraída ou se ignorou olimpicamente todas as decisões judiciais e da Comissão Nacional de Eleições, que confirmam o direito de propaganda e de pintura de murais, incluindo a mais recente, emitida apenas há alguns dias que condena a Câmara Municipal de Coimbra a repor um mural da CDU que indevidamente destruiu.
A terceira é procurar a razão para que, numa cidade com amplas tradições democráticas, onde, aliás, se desenvolvem inúmeras acções políticas, de protesto e de denúncia, através dos mais variados meios, que valorizou, em determinada altura, as pinturas murais existentes ainda do tempo do período revolucionário, aparece alguém invocando rigores estéticos para limitar direitos fundamentais.
E há ainda uma quarta questão, não menos importante, que era bom que a vereadora do PS esclarecesse. Se está dedicada por estes dias a arrumar todas as contraordenações que não resolveu nos últimos três anos, ou se são apenas as que dizem respeito a liberdades e garantias.
Uma coisa é certa, não será uma justiceira de ocasião que travará a acção, a luta e a denúncia.