11 de Setembro, 1973 e 2001

Albano Nunes

É necessário intensificar a luta pela paz e a solidariedade internacionalista

1973, golpe fascista no Chile da Unidade Popular. Um acontecimento histórico marcante que nenhum revolucionário deve esquecer. Não pode permitir-se que em tempos de gravíssimas ameaças à liberdade, à paz, à soberania dos povos, quando os sectores mais reaccionários e agressivos do grande capital jogam cada vez mais no fascismo e na guerra como «saída» para o aprofundamento da crise do capitalismo, os crimes cometidos pelo golpe organizado e dirigido pela CIA pela mão de Pinochet seja esquecido, soterrado pela avalanche mediática sobre o criminoso atentado de 2001.

Não pode esquecer-se que no Chile se tratou, não só de destruir o curso progressista protagonizado pelo governo de Salvador Allende, mas de pôr em prática as políticas neoliberais gizadas pelos Chicago boys, de brutal exploração e concentração de capital, políticas que se estenderam a todo o mundo na sequência das derrotas do socialismo com a multiplicação de operações de ingerência e agressão do imperialismo. Nem esquecer-se que a luta do povo chileno para enterrar definitivamente a Constituição pinochetista continua a exigir a nossa solidariedade.

Quanto ao 11 de Setembro de 2001, muita coisa continua envolta numa densa cortina de fumo. Mas o que é conhecido sobre a criação dos mudjahidine, dos talibã e do próprio Osama bin Laden, e a ser verdade a tese oficial sobre os acontecimentos, é lícito admitir que o feitiço se voltou contra o feiticeiro. Não vamos porém por aí, perdendo de vista o essencial.

E o essencial reside no aproveitamento que os EUA fizeram da comoção criada pela tragédia para justificar um novo salto na escalada agressiva para impor ao mundo a sua hegemonia e, apoiado por aliados como os sionistas de Israel e a ditadura teocrática saudita (que aliás foi quem forneceu a ideologia e os quadros implicados no 11 de Setembro), redesenhar o mapa político de uma vasta região que vai do Magrebe à Ásia Central que designou de Grande Médio Oriente. Depois da invasão do Afeganistão, a invasão do Iraque e as guerras de agressão à Síria, à Líbia, ao Iémene. A então proclamada guerra ao terrorismo torna-se numa componente fundamental da estratégia do imperialismo norte-americano, servindo de cobertura ao sistemático afrontamento da Carta da ONU.

Os EUA e os seus aliados da NATO acabam de sofrer mais uma humilhante derrota no Afeganistão, mas o modo como estão a assinalar a passagem dos vinte anos do 11 de Setembro não augura nada de bom. Há perturbação e inquietação no campo imperialista, mas a linguagem que prevalece nos círculos dirigentes não está orientada para a paz, para a solução pacífica de conflitos, para o respeito pelo direito internacional.

O que se promete com o pretexto da «guerra ao terrorismo» é continuar a atacar direitos e liberdades fundamentais, a atentar contra a soberania dos povos, a levantar novos muros, a prosseguir a corrida aos armamentos como no caso da UE que, a pretexto de «autonomia estratégica» em relação aos EUA, se propõe aumentar ainda mais as despesas militares e relançar o projecto de um «exército europeu».

Esta é uma realidade que aponta para necessidade de intensificar a luta pela paz e a solidariedade internacionalista.




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