Economia circo lar

Manuel Gouveia

Uma das muitas coisas de que está na moda falar é da economia circular. Fica bem e dá um ar ecológico e profundamente progressista. E a coisa até é um conceito simpático, fosse mais posto em prática naquilo que implica - redução, reutilização, recuperação e reciclagem - e menos citado como mero adorno na propaganda das mesmas políticas de sempre.

Como no modo de produção capitalista só o aumento do lucro faz mover as montanhas, tudo é submetido a essa necessidade motriz. É assim que os mais belos conceitos se transformam em patéticas caricaturas de si mesmos. É o caso da economia circular.

Todos recordaremos que, em nome do combate ao plástico e da promoção da reciclagem, pagamos uma taxa nos sacos que usamos no supermercado. Além da taxa, todos pagamos os ditos sacos, que deixaram de ser uma despesa e passaram a ser uma receita das grandes distribuidoras. E a estas taxas já se somaram outras, aplicadas a embalagens e outros produtos.

Agora soubemos que o Governo contribuirá com 63 milhões de euros para a multinacional Repsol construir uma fábrica que produzirá 300 mil toneladas de plásticos por ano em Sines.

É nenhuma a circularidade destas políticas, onde todos pagamos ao Estado por usar plástico e o grande capital recebe do Estado para produzir plástico e recebe dos clientes por vender plástico. Estamos perante um recta pura – nós pagamos, eles recebem. Fosse ao contrário, com as multinacionais a pagar, e teríamos o circo do costume, com os camilos amestrados a gritarem contra a carga fiscal.

(Nota muito importante, para evitar confusões: o plástico é uma invenção extraordinária, que muito beneficia a humanidade; a sua reutilização, recuperação e reciclagem, bem como alguma redução do seu consumo, são possíveis e necessárias; a poluição com plásticos e microplásticos é um problema real; se consumimos plástico, melhor produzi-lo em Portugal. Mas este artigo não é sobre plástico...)




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