Teias que se enovelam

Rui Fernandes

Nas nomeações e colocações, nem tudo o que parece é

Lusa

Sabemos, porque vemos, ouvimos e lemos, que vivemos tempos recheados de complexidades. Complexidades exponencialmente agravadas pelo uso de vários instrumentos na tentativa de impor a mentira, a abordagem fugaz, realçar o acessório e esconder o essencial, usar meias verdades para sustentar opiniões.

Os que assim agem são, muitas das vezes, os mesmos que depois promovem programas para realçar os perigos de tais práticas, antigas no combate político e ideológico, mas que nos dias que correm se espalharam como óleo por quase todas as áreas. O seu uso, em sectores fundamentais do Estado, desde logo na relação com os seus trabalhadores (trabalhadores entendido em sentido lato) só pode ter como consequência a degradação da qualidade das instituições, com todas as consequências que daí advêm.

A manutenção de opções firmes de seriedade no tratamento das diversas questões por parte de quem se oponha a uma dada matéria, recusando entrar nesse terreno lamacento, é um ganho. Foi isso que não se viu nalgumas pessoas que ocuparam cargos de alta responsabilidade no seu comentário ao encalhe ocorrido com o navio da GNR.

A pergunta que se deixa é esta: quantos casos de incidentes com navios da Armada ocorreram nos últimos 30 anos? E conduziu tal à absurda conclusão de que a Armada não percebe nada de navegação? Não! Portanto, discordar que a GNR tenha navios não pode ser sinónimo de engendrar argumentos à procura do popularucho, sobretudo por parte dos que se acredita serem defensores do regime democrático, alimentando a «fogueira» mais geral que tudo pretende queimar em seu redor.

A complexidade dos tempos que se vivem expressa-se de várias formas e uma delas é a crescente confusão entre capacidades e competências ou em sinais de militarização de estruturas do Estado versus policialização das Forças Armadas. O que é supletivo aparece cada vez mais como primário, num quadro de concentração de poderes resultante das recentes alterações na estrutura superior.

A recente indicação por parte do Almirante Chefe do Estado Maior da Armada (CEMA) do contra-almirante Oliveira e Silva para Comandante Naval e a recusa por parte do Ministério da Defesa Nacional, ouvido o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), dá o mote. E clarifique-se que não está em causa a legalidade da recusa. Em resultado dessa recusa o referido oficial general meteu os papéis para passar à reserva. Assim se arrumou uma carreira militar.

Sabemos que nomeações, colocações, etc., é uma espécie de xadrez em que nem tudo o que parece é. Sabemos também que em instituições desta natureza, deveria imperar a lisura, coisa que se vai transformando crescentemente numa memória, com todas as consequências daí resultantes. Por fim, deixa-se à reflexão se a recusa foi um dano colateral na procura de que o CEMA se demita, abrindo desta forma o processo para que outro vice-almirante possa ascender ao cargo.




Mais artigos de: Argumentos

Regresso

Acontece que Jorge Bergoglio, cidadão argentino, tem estado presente nesta coluna com relativa frequência, e isso não acontece por acaso nem sem alguma justificação: é que Jorge, de há uns tempos para cá mais conhecido por Francisco, é nem mais nem menos que o Papa, bispo de Roma e chefe da Igreja Católica. Para mais,...

Os novos negócios baseados nas práticas colaborativas (continuação)

Na edição de Maio iniciou-se este tema explicando o modo de funcionamento e prática discursiva de uma produtora cultural online, a HitReCord, que opera fundamentalmente fazendo uso de conteúdos produzidos pelos internautas inscritos na plataforma. A sua estrutura e modelo laboral são...