Fim da produção de vidro rejeitado com luta
Os trabalhadores da Saint-Gobain Sekurit. organizados no seu sindicato, rejeitam o despedimento colectivo e o fecho da empresa, ditado pela multinacional francesa, e exigem intervenção do Governo.
A Saint-Gobain quer em Portugal apenas um entreposto logístico
Ontem, como desde segunda-feira, os trabalhadores concentraram-se à porta da fábrica, em Santa Iria de Azóia, em defesa dos postos de trabalho (130 do quadro da empresa e mais 70 de prestadoras de serviços) e da única unidade de produção e transformação de vidro para o sector automóvel em Portugal.
Ontem foi anunciado que no dia 9, próxima quinta-feira, a concentração será deslocada para junto do Ministério da Economia, para exigir uma resposta do Governo. Em declarações ao Avante!, um dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira adiantou ainda que hoje estará na concentração a Secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha. Pedro Milheiro, trabalhador da Saint Gobain Sekurit, assinalou que todos os dias os trabalhadores têm recebido expressões de solidariedade, por parte de estruturas do movimento sindical unitário, das autarquias locais e, ontem, da deputada Alma Rivera, em representação do grupo parlamentar do PCP.
Em reacção à decisão anunciada a 24 de Agosto pela administração da empresa, no regresso de férias, o sindicato decidiu acções imediatas e pediu reuniões com os ministros da Economia e do Trabalho.
Na sexta-feira, 27, uma delegação dos trabalhadores foi recebida pelo presidente da CM de Loures. Bernardino Soares expressou toda a solidariedade para com a luta, garantindo «uma intervenção activa junto do Governo e da administração da empresa». O presidente esteve na segunda-feira, dia 30, na primeira concentração marcada para a porta da fábrica.
Na quarta-feira, dia 25, na reunião do executivo municipal, já tinha sido aprovada por unanimidade uma moção a repudiar a intenção da multinacional.
«O PCP exige que o Governo intervenha e não permita mais este atentado», afirma-se num comunicado do Sector de Empresas da Organização Concelhia de Loures do Partido, publicado dia 27.
No documento, recorda-se que a Covina (Companhia Vidreira Nacional), «a maior empresa de produção de vidro plano da Europa e a única detentora da licença para a sua produção» no País, foi privatizada a favor da Saint-Gobain em 1991, que recebeu depois avultadas verbas públicas, «sempre com a promessa, ora de pôr o forno a funcionar, ora de modernização da fábrica».
Após «várias reestruturações», «em 2013 impuseram um despedimento colectivo, a pretexto de garantir o futuro da empresa». No entanto, acusa o PCP, a Saint-Gobain «tem um plano estratégico de monopolização do mercado» e a decisão de fechar a fábrica portuguesa «não tem nada a ver com a crise do mercado do vidro automóvel, até porque um dos seus maiores clientes, a Autoeuropa, apresentou em 2020 o terceiro melhor resultado de sempre».
A decisão da multinacional faz parte da «gestão dos vários meios e recursos de que dispõe, transformando a fábrica de Santa Iria de Azóia num mero armazém, que funcione como plataforma de distribuição, desperdiçando a mão-de-obra de trabalhadores altamente qualificados na produção de vidro e empurrando-os para o desemprego».
Pedro Milheiro também refuta a alegação de prejuízos, com que a Saint-Gobain justifica a decisão, realçando que o grupo teve, no primeirosemestre deste ano, lucros globais de 1298 milhões de euros.