Economia (s)

Correia da Fonseca

A televisão, que presumivelmente tem gosto em dar-nos boas notícias ainda que não se note muito este seu pendor, informou-nos há dias que as economias dos portugueses estão em alta. Não é fenómeno que se note muito, talvez até pelo contrário, mas de qualquer modo trata-se de uma notícia capaz de dar algum conforto à generalidade dos cidadãos que, naturalmente, gosta de ter notícias agradáveis mesmo que não lhes digam directamente respeito. Contudo, à semelhança do que ocorre com outras informações semelhantes ou aproximadas, convém abri-la e ver o que tem dentro, à semelhança do que se faz às melancias de mérito duvidoso. E, de entre tudo quanto a notícia contenha e seja interessante, destacar-se-á o modo como essas economias estão distribuídas: se por um largo e desejável número de cidadãos ou se por um número tão restrito que nos deixe entregue a amargas reflexões. A questão, como aliás todos sabemos, é que, sendo óptimo que o volume das poupanças dos portugueses esteja em nível desejável, talvez mais ainda o seja que não estejam em muito poucas mãos. Por razões várias que quase todos conhecemos e entendemos.


Mãos, músculo, suor

Como todos bem sabemos e entendemos até por eventuais experiências próprias, não é possível, nem correcto, nem desejável, confundir a economia ou as finanças de um país com as finanças e economia dos seus cidadãos: há factores de repartição e distribuição que é forçoso ter em conta para que não caiamos em armadilhas. Por isso é natural que recusemos alguma satisfação eventualmente sugerida perante o provável crescimento da economia portuguesa, só por si, sendo inevitável que perguntemos quais os portugueses que beneficiam desse obviamente desejável e bem-vindo crescimento. A economia portuguesa que nos dizem estar a crescer, e ainda bem, é como um organismo vivo: tem mãos, músculo e suor humanos, é mais que uma abstracção. Se, como a TV nos diz, está em crescimento, esse êxito não resulta apenas de quem manda (e não se retira méritos aos comandos), mas também e sobretudo a quem faz aos diversos níveis de uma produção, de uma economia. E este é um dado, que não podendo ser esquecido, alguns tendem curiosamente a não lembrar.




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