Conversas mais Avante!
As palavras dão força à acção transformadora do mundo
A segunda edição da Festa em Linha de Livros Desalinhados realizou-se no sítio das Edições Avante!na Internet, entre os dias 12 e 27 de Junho, e afirmou que as ideias não se confinam, que as palavras são livres e dão força à acção transformadora do mundo. Numa grande festa de livros, várias conversas com autores comprovaram a luta e a resistência que se trava também na batalha das ideias.
Domingos Lobo, autor de Origens e Derivações do Neo-Realismo Literário Português – Percursos de Leitura, deu o mote a este ciclo, partindo de textos agora reunidos em volume, que questionam e reorganizam a leitura de um amplo conjunto de obras de autores portugueses. Crítico literário contra-corrente, reclama um espaço de livre reflexão sobre o literário, que lhe permite trazer até à contemporaneidade derivações daquela que considera «a mais importante corrente literária do século XX português», apesar das fronteiras a que se encontra circunscrita pelo preconceito ideológico dominante.
Esta conversa abriu caminho à apresentação de Rita Cruz, nova escritora portuguesa que se estreou em Maio com o romance No País do Silêncio. Na origem do romance, cuja acção atravessa o Portugal fascista de 1940 a 1974, está a urgência de afirmar a história e preservar a memória de um país sem liberdade, porque o esquecimento leva-nos a repetir erros. Testemunho de um tempo que não viveu, o romance recupera temas do neo-realismo português de que nos falava Domingos Lobo, da infância à condição da mulher, passando pela repressão, o exílio ou a guerra colonial. Apesar de nascida em liberdade, Rita Cruz escolhe dizer o silêncio, e a coragem destas palavras causa um sobressalto literário de que muito ainda se há-de falar.
É no combate ao esquecimento, e na partilha e na construção do conhecimento, que intervém António Avelãs Nunes, «universitário-cidadão», nas suas próprias palavras. A partir da antologia de textos que nos dá a conhecer um pouco do caminho que tem percorrido, Faz-se Caminho ao Andar é, no conjunto da sua obra, um pretexto para falarmos de história e da luta pela democracia e o socialismo, onde «o nós da história é o nós colectivo, são os povos de todo o Mundo».
Esse «nós colectivo» está muito patente nas conversas com Fausto Neves e Sérgio Dias Branco. Se no livro Em Torno de Lopes-Graça. Pensamento – Resistência – Criação vemos a importância da criação e fruição da música e o papel desempenhado por Fernando Lopes-Graça nesse processo, enquadrado na sua acção política como membro do Partido Comunista Português e na sua actividade antifascista pela democracia e pela liberdade, na conversa sobre o livro O Trabalho das Imagens – Trabalhos sobre Cinema e Marxismo vemos as relações da arte com o processo histórico, particularmente do cinema, numa conversa que recentrou a importância da obra de Marx para a explicação e a transformação do mundo em que vivemos, escapando ao idealismo do pensamento pós-moderno entranhado em muita da crítica cultural contemporânea.
Batalhas políticas e ideológicas igualmente presentes no livro de José Goulão Prosas em Tempos de Peste, que, após diversas fases de confinamento e sucessivos estados de emergência, ganha ainda sentido, lido à luz dos efeitos globais da pandemia e dessa «janela de oportunidade» para relançar o capitalismo no contexto securitário europeu.
Em todas estas conversas, a resistência dos explorados face à ofensiva global do capitalismo, a luta pela informação contra a manipulação e a propaganda neoliberal, a urgência de combater a permanente agressão aos direitos dos trabalhadores e dos povos. Conversas que, integrando a colecção de Conversas mais Avante! que desde 2020 se têm feito com escritores em torno dos livros e da leitura, estão disponíveis a partir do sítio das Edições Avante!, em editorial-avante.pcp.pt.