Francisco
Como aliás é normal, a televisão trouxe-nos algumas palavras de Francisco, o Papa, e também sem surpresa aconteceu pudermos verificar que foram palavras importantes não apenas pela sua origem mas também por serem justas, adequadas e até corajosas, pois nos tempos que vão correndo (na verdade em todos os tempos) é necessária coragem para dizer o que é preciso dizer, porventura mais ainda quando se é Papa. Francisco falou de paz, de solidariedade, de partilha, do que é geralmente designado por justiça social, e se é verdade que estes temas não deviam surpreender vindos de onde vieram, o caso é que nem sempre chegam de Roma, mais exactamente do Vaticano, palavras que lembram o que sempre devia ser fundamental e estar presente. Infelizmente e como bem sabemos, não basta usar de palavras justas ao serviço de justas ideias para que a realidade se encaminhe para onde é preciso, mas é positivo que se dê esse primeiro passo que é o de falar com clareza e coragem do que é fundamental. Por aí se pode começar muita coisa. Ou não.
Bem-vindo
Como se sabe e é útil não esquecer, Francisco veio do outro lado mar, da Argentina, e é de crer que na sua invisível bagagem tenha vindo incluída a peculiar aprendizagem sociocultural que terá decorrido da vida sociopolítica argentina. A questão é que Roma, isto é, o Vaticano, precisava dessa espécie de injecção de visão realista do mundo actual, e aliás é de recear que a dose porventura trazida por Francisco ainda seja escassa e portanto insuficiente. Perguntar-se-á talvez em que medida é que é relevante o que pensa sobre o mundo actual um sujeito encerrado no Vaticano, e a resposta para a eventual pergunta é incerta. Quando o Papa se lembra de recordar ao mundo católico, e também ao que não o é, o dever imperioso da justiça social e da luta pela paz, quase podemos dizer lembrando Gedeão que “o mundo pula e avança”. Por isso são importantes as palavras de Francisco a recordarem o dever da justiça e a pregarem contra a brutalidade de todas as opressões, com destaque para as que não vemos que derramem sangue mas bem sabemos que matam. Não precisamos de crer em nada de sobrenatural para combater pelo que é justo. Para isso, não precisamos de Francisco ao nosso lado. Mas ele é bem-vindo.