As Artes nos 50 Anos da CGTP-IN

Manuel Augusto Araújo

O calendário de eventos que assinalam os 50 anos da CGTP-Intersindical, comemorados no ano transacto, sofreu várias alterações em função dos constrangimentos impostos pela pandemia. Um deles era uma exposição de artes visuais, originalmente prevista para se realizar há um ano e que só agora encontrou condições, embora com algumas restrições, para ser aberta ao público.

Uma exposição que tem duas leituras, uma óbvia imediatamente visível outra mais distanciada, quase oculta, mas não de menor importância.

A primeira lê-se nas obras dos artistas que foram convidados a participar, conhecedores do objectivo de ser integrada nos eventos que assinalam meio século de actividade continuada e sem fissuras na defesa dos trabalhadores, na valorização do trabalho, que é o que gera riqueza, porque o trabalho é a fonte da riqueza, tanto do trabalho como do capital, medida pela quantidade de trabalho que foi necessário para a criar, porque tudo o que os humanos têm usado na sua história para criar riqueza, dos machados de pedra neolíticos aos robots, das obras de arte aos computadores, foi sempre e em todos os seus momentos criado pelo trabalho humano.

Os artistas aqui representados ilustram o reconhecimento da importância das lutas travadas pela CGTP-IN, e são uma afirmação do artista enquanto trabalhador, de um trabalho inventivo e qualificado com um forte valor adicional exposto a uma economia de incertezas, o que se tornou mais notório com a crise provocada pela COVID-19, que paralisou praticamente toda a actividade do sector cultural e expôs com acentos trágicos a precariedade dos trabalhadores dessa área, atirados para situações em que a grande maioria se debate nos limites da subsistência.

 

Valorizar a cultura e as artes

A CGTP, defendendo os direitos dos trabalhadores, o valor do trabalho, a sua valorização, está obliquamente a contribuir para a valorização da cultura e das artes porque só um trabalhador com maior capacidade económica, capacidade económica que não se esgote nos custos da sua sobrevivência e com direito a mais tempos livres, pode ter acesso aos bens culturais. Um homem com fome não tem tempo nem capacidade para reconhecer a forma, o sabor, as texturas, o quase milagre que é a invenção do pão. Para ele, o pão é o combustível da sua sobrevivência.

Fica desde logo solidamente esclarecido que qualquer política cultural está intrinsecamente ligada a políticas económico-sociais que assegurem mais que o limiar da vida. Ao defender os direitos dos trabalhadores, a CGTP está indirectamente a reivindicar condições materiais e tempo livre para pensar, aceder às artes e à cultura, ao estudo das formas de se libertar da exploração do trabalho, o que continua a ser de flagrante actualidade e não somenos importância.

São muitos os temas que se poderiam desenvolver com base nesta exposição e não é este o espaço para os aprofundar, sendo espaço para os enunciar e os propor à reflexão, sublinhando-se que um dos significados mais significantes, passe o pleonasmo, desta exposição de artes visuais é estar fora do circuito normalizado das galerias e dos museus, que é visitada sobretudo por uma elite mesmo que não se reconheça como elite, ainda que muitas exposições que se realizam por todo o País aconteçam fora desses circuitos.

É ainda o reconhecimento pelo universo das artes representado por estes artistas dos cinquenta anos de lutas que a CGTP–Intersindical Nacional empreendeu e continua a empreender dia a dia, hora a hora, palmo a palmo para nos lembrar e demonstrar que a luta de classes continua a movimentar a vida e que a utopia não é o desejo do impossível mas daquilo que ainda não foi possível realizar.





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