Homenagear Catarina Eufémia é continuar a sua, nossa, luta
O PCP assinalou o 67.º aniversário do assassinato de Catarina Eufémia com uma homenagem em Baleizão, terra natal da operária agrícola alentejana assassinada pelo fascismo em 1954. A melhor homenagem é continuar o seu combate, afirmou Jerónimo de Sousa.
Catarina é símbolo da luta do combativo proletariado agrícola do Alentejo
Esta homenagem «não é um acto de saudosismo, é a justa lembrança de quem muito nos orgulha, é celebrar Catarina prosseguindo a sua luta, a nossa luta», realçou o Secretário-geral do PCP, no domingo, 23, em Baleizão. E, com a consciência de que «a melhor homenagem que podemos prestar a Catarina Eufémia é a de continuarmos o combate pelos objectivos pelos quais ela deu a sua vida», Jerónimo de Sousa reafirmou que «não desistiremos da luta e do papel que nos cabe na defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País».
A homenagem começou, ao fim da manhã, com a deposição de flores na campa de Catarina, realizando-se depois o desfile dos participantes até ao largo central da aldeia, desfile encabeçado por uma faixa indicando que «A luta é o caminho». No largo, o Grupo Coral de Baleizão cantou três modas evocando a camponesa assassinada e a sua terra natal, após o que se seguiu a intervenção do Secretário-geral do PCP.
A seu lado, na tribuna, estiveram os dirigentes do Partido João Dias Coelho, da Comissão Política do Comité Central, João Pauzinho, do Comité Central, Maria João Brissos, da Comissão de Freguesia, João Dias, da Direcção da Organização Regional de Beja (DORBE) e deputado eleito por Beja, Vítor Picado, da DORBE e candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Beja nas próximas eleições autárquicas, e, ainda, Lucas Candeias, da JCP.
PCP, o Partido de Catarina
Na intervenção em Baleizão, Jerónimo de Sousa salientou que esta homenagem decorreu no ano em que passam 100 anos da fundação do PCP, o Partido de Catarina: «Este Partido que tem uma história ímpar no quadro partidário português. A história de um Partido que esteve sempre na linha da frente da luta dos trabalhadores e do nosso do povo. Que tomou a vanguarda em todos os combates contra a exploração, a opressão e as desigualdades. Que nunca se quedou perante a repressão. Que nunca claudicou nem se rendeu. Que lutou todo o tempo que foi preciso, em todas as circunstâncias e correndo todos os riscos, para derrotar a ditadura fascista, para afirmar e fazer avançar Abril, para defender os interesses dos trabalhadores e do nosso povo e o seu direito a decidir do seu futuro».
E foi assim, considerou, porque «no seu seio contou com a dedicação e o trabalho de gerações de intrépidos combatentes, gente de grande coragem e dedicação à causa da emancipação dos trabalhadores e do povo».
Destacou que a camponesa de Baleizão é «símbolo da luta do nosso povo e do combativo proletariado agrícola do Alentejo pelo pão e pela liberdade» e lembrou como Catarina, «orgulho de todos os trabalhadores portugueses», tomou lugar nas primeiras linhas de combate em defesa dos interesses dos trabalhadores, enfrentando corajosamente a força bruta fascista, tendo tombado às suas balas assassinas nesse trágico dia 19 de Maio de 1954, quando encabeçava «uma acesa luta do heróico povo de Baleizão, em greve por melhores salários e contra a opressão e a exploração do latifúndio, sustentáculo do regime fascista».
Uma nova Reforma Agrária
Jerónimo de Sousa associou ainda à homenagem a Catarina «todos os camaradas assassinados pelo fascismo, todos os antifascistas que perderam a vida ou sofreram as consequências da sua opção de fazer frente ao odioso regime fascista – essa ditadura terrorista dos monopólios e dos agrários».
E afirmou que, evocando Catarina, «é a perspectiva da concretização da Reforma Agrária que se mantém viva no horizonte da nossa luta – esse grande sonho que gerações e gerações de proletários agrícolas aspiravam ver concretizado com a sua longa luta!». Sonho que se tornou momentaneamente realidade com a Revolução de Abril, sob a consigna «A terra a quem a trabalha».
Reforma Agrária, disse Jerónimo de Sousa, que acabaria sufocada e destruída e o latifúndio restaurado por um poder político que, a partir de 1976, tomou o partido dos senhores da terra, dos grandes latifundiários que colocaram o Alentejo a ferro e fogo durante 14 anos de ofensiva, trazendo novamente ao Alentejo não apenas as terras abandonadas, a desertificação e o desemprego, mas também de regresso «uma sórdida e brutal exploração de que Odemira de hoje é apenas um exemplo dessa realidade, onde os trabalhadores, em grande parte imigrantes, sem direitos laborais, com evidências de práticas abusivas e arbitrárias, vivem em condições degradadas de habitação e saúde».