Vidas bloqueadas

Gustavo Carneiro

Para além da agressão directa ou encapotada, da chantagem militar ou diplomática e da promoção de golpes de Estado ou revoluções coloridas, o imperialismo norte-americano recorre a outros instrumentos para tentar vergar – ou punir – países e povos que, pelas mais variadas razões, constituam um obstáculo aos seus propósitos de domínio económico e geo-estratégico: as sanções e os bloqueios.

Por mais sonantes que sejam os slogans propagandísticos encontrados em cada momento para a sua imposição – da defesa da liberdade e dos direitos humanos à luta contra o terrorismo ou um qualquer regime –, nada apaga as suas dramáticas consequências, que sempre recaem sobre os povos que hipocritamente garantem querer libertar. A gravidade do crime contrasta com a pouca (ou nenhuma) presença na comunicação social dominante.

As pesadas sanções à Síria somam-se à guerra imposta a partir do exterior (que causou numa década meio milhão de mortos e mais de cinco milhões de refugiados) e à ocupação ilegal de parte do território por forças norte-americanas, turcas e israelitas. Elas representam hoje o principal obstáculo à reconstrução do país e à garantia a toda a população de direitos humanos elementares, como denuncia a relatora especial da ONU, Alena Douhan. A mesma que, em Dezembro, acusou os EUA de porem em causa o «próprio direito à vida de toda a população», ao dificultarem a importação de materiais e o financiamento necessários à reconstrução de hospitais, habitações e outras infra-estruturas.

Na Venezuela deu que falar há tempos o caso de Giovanny Figuera, de seis anos, que morreu à espera do transplante de medula que lhe salvaria a vida, e que deveria ser pago pela empresa petrolífera PDVSA através da filial dos EUA, Citgo. O confisco da referida filial e de cerca de 30 mil milhões de dólares que o Estado venezuelano tinha depositados em contas bancárias e fundos financeiros no estrangeiro (incluindo no Novo Banco) acabou por inviabilizar o necessário auxílio e provocar o dramático desfecho.

Cuba enfrenta o mais antigo sistema unilateral de sanções da história, o bloqueio norte-americano, imposto em 1962 e por diversas vezes agravado. É o bloqueio que obriga Cuba a pagar dez vezes mais pela importação de alguns produtos alimentares e a impede de comprar medicamentos e equipamentos médicos de última geração que tenham pelo menos 10% de incorporação norte-americana. Por esta razão, viu-se recentemente privada de medicamentos comprovadamente eficazes no tratamento dos cancros da próstata e da mama.

As sanções e os bloqueios não matam menos do que as guerras, apenas o fazem mais lentamente. Só a luta dos povos lhes porá fim!




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