O Dia Internacional da Mulher, comemorado há mais de um século por iniciativa de Clara Zetkin, foi este ano pródigo em asneiras reveladoras de retrocessos e de concepções fundas dos seus promotores. Vejamos três exemplos.

A CIP, Confederação Empresarial de Portugal, para assinalar este dia dedicado à valorização do papel da mulher, decidiu realizar um debate apenas com homens para, segundo o seu líder, «colocar os homens no topo das empresas a falar o que querem ver feito nas suas organizações para ter mais mulheres em altos cargos». Ideia peregrina só travada pela denúncia pública, que levou a incluir, por favor, duas mulheres no painel de seis homens.

Já um grupo multinacional de retalho, o Lidl, lembrou-se de assinalar a efeméride, em que se reclama a igualdade na lei, no trabalho, na família e na vida, para disseminar velhos estereótipos sobre a mulher com a promoção de presentes, «para aproveitar o dia de forma original e saborosa», entre os quais se destacam uma elegante forma para bolos e um magnífico conjunto de varinha mágica.

Por fim, cereja em cima do bolo, tivemos ainda aquele cavalheiro que, levantado inopinadamente da tumba onde repousava sereno, no meio dos fantasmas que o assombram desde que o povo português lhe impôs, pela luta, dura derrota, numa iniciativa partidária para celebrar a data, que traz para o centro do debate o combate às discriminações, perorou sobre o papel «dos médicos e das enfermeiras» no combate à epidemia.

De uma penada, a golpes de disparate, Cavaco Silva, regressa ao mundo retrógrado onde ainda desejaria viver, a uma sociedade onde a estratificação social estava bem definida, onde não se admitiam veleidades de mulheres, esse ser menor, quererem passar do patamar da enfermagem e onde a enfermagem, essa profissão inferior, não se punha em bicos de pés para ter homens entre os seus profissionais.

Esse tempo onde, à mulher, o lugar de destaque que estava reservado, de autêntica rainha sublinhe-se, era nas tarefas da cozinha, para as quais os homens congeminaram soluções maravilhosas, de que a forma para bolos e a varinha mágica de 600w do Lidl constituem acabado exemplo.

Gente velha!