Desfile da JCP assinala cem anos a tomar Partido
«O futuro está aqui»
Dezenas de militantes da JCP desfilaram, ao início da tarde de sábado, por locais emblemáticos da história do PCP e afirmaram que «O futuro tem Partido».
A iniciativa que antecedeu o comício no Rossio, intitulada «100 jovens em desfile. Passos pela história. O Socialismo no horizonte», foi um dos momentos marcantes do acto central das comemorações do Centenário do PCP. Desde logo porque se a perspectiva era juntar cerca de uma centena de jovens, a participação juvenil superou seguramente as melhores expectativas, sinal inequívoco da vitalidade e capacidade de atracção do ideal comunista e do PCP, um século após a sua fundação.
Começou na Rua do Arsenal, na Baixa de Lisboa, onde, entre a implantação da República e os anos 20 do século passado, fervilhava a acção reivindicativa e cresciam as consciências revolucionárias no ambiente fabril então dominante.
Entre a rua e um torno do Arsenal da Marinha, forjou Bento Gonçalves a têmpera comunista que o levou a tomar Partido pelos explorados e oprimidos, a afinar a organização e intervenção determinada e firme da classe operária e de todos os trabalhadores e a assumir as mais altas responsabilidades no PCP (foi o primeiro Secretário-geral). Bento Golçalves, assassinado no Campo de Concentração do Tarrafal, aos 40 anos, para onde foi enviado pela ditadura fascista, imposta pela burguesia como resposta à vaga de transformação social em que o PCP começava a assumir protagonismo.
Isto foi explicado aos jovens que ali se concentraram antes de partirem em direcção à Rua da Madalena, entre palavras de ordem e bandeiras vermelhas desfraldadas ao sol que queremos que nasça para todos.
Da fundação à glória
Estamos agora na Rua da Madalena e as palavras de ordem custam mais a sair devido à subida íngreme abafada pelas máscaras. O destino é o local onde foi fundado o PCP, onde o Partido deu os primeiros passos.
Para muitos dos presentes, serão também os seus primeiros passos. Não se dirá os passos inaugurais numa opção de vida pela emancipação social do proletariado, pois a intensa actividade dos comunistas portugueses faz com que mesmo os mais jovens acumulem, ao fim de um punhado de meses, uma assinalável experiência e uma sólida formação política. Mas ainda assim os primeiros passos por comparação com os 100 anos do Partido que hoje é o seu.
Parados junto ao edifício onde foi fundado o PCP, ouvem uma recriação, em alto-falante, do acto fundacional do PCP, depois de entoada A Internacional. Escutam os valores, princípios e objectivos supremos e cantam em uníssono o «Avante, camarada!». E partem de novo, desta feita em direcção ao Chiado, mais concretamente à Rua António Maria Cardoso.
Um Partido que passou quase metade da sua existência na mais rigorosa clandestinidade, não podia deixar de festejar os seus 100 anos sublinhando a histórica resistência ao fascismo, na qual foi o maior protagonista.
A comoção tomou conta de muitos, entrecortada pela recriação de uma fuga frente a antiga sede da PIDE, onde actos de heroísmo revolucionário permitiram abrir caminho ao derrube do fascismo e à conquista da democracia e da liberdade, a 25 de Abril de 1974.
A Revolução de Abril, recordada já no Largo do Carmo, de cravo na mão, ao som do primeiro comunicado do MFA, do primeiro 1.º de Maio em liberdade, de excertos de «As portas que Abril abriu», de Ary dos Santos, e da primeira declaração de Álvaro Cunhal à chegada ao Aeroporto de Lisboa.
Àlvaro Cunhal cujo papel destacado na construção do PCP como Partido marxista-leninista foi lembrado em voz-off, antes de todos cantarem a «Grândola Vila Morena» e rumarem ao Rossio, onde a mancha de bandeiras vermelhas empunhadas por jovens foi recebida com entusiasmo e esperança. Afinal, com a juventude a tomar Partido desta forma, o futuro está aqui. Para mais cem anos.