A Casa do Alentejo, a cultura e a luta por um País mais justo

João Oliveira

O trabalho cívico, social e cultural da Casa do Alentejo é muito relevante

Quem for à Casa do Alentejo e se dedicar apenas a apreciar o Palácio Alverca onde está sediada arrisca-se a não compreender toda a sua extensão (nem sequer a maior ou mais relevante parcela) do trabalho realizado pela Casa do Alentejo.

A história da Casa do Alentejo é a história de uma associação regionalista que atravessou períodos complexos e conturbados, superando múltiplas dificuldades e afirmando-se como casa de acolhimento para aqueles que, do ponto de vista cívico, político, cultural e social, lutaram e lutam por um país mais justo, mais desenvolvido, de progresso e, particularmente, pela expressão dessa luta a partir da realidade do Alentejo e das suas populações.

Isso aconteceu no passado mais distante tal como acontece no presente e, de forma particularmente visível, no empenho que a Casa do Alentejo tem colocado na projecção para o futuro das grandes causas do Alentejo e dos alentejanos, de que é exemplo mais visível a regionalização.

Quem se limitar a apreciar o Palácio Alverca não conseguirá ver aquilo que de mais relevante tem a Casa do Alentejo e que está no trabalho cívico, social e cultural que a partir daquela associação é feito, com a projeção da cultura, das tradições e da realidade do Alentejo e das suas populações, quer as que permanecem na região, quer as que, por motivos diversos, tiveram de fazer vida noutras paragens.

Valorizar o património

O contributo que, ao longo de décadas, a Casa do Alentejo tem dado para a valorização do património e da cultura do Alentejo é, de facto, um valor que deve ser destacado e sublinhado e que encontra expressão em múltiplas actividades artísticas, sociais e culturais que encontram na Casa do Alentejo espaço de realização e projecção nacional e até internacional. Tudo isso feito de forma aberta e abrangente, dando a conhecer o Alentejo mas trazendo também ao Alentejo aquilo que lhe é estranho e diferente.

Igualmente inegável é o contributo que a Casa do Alentejo tem dado para a vivência cultural da cidade de Lisboa.

A recuperação do Palácio Alverca é um trabalho verdadeiramente notável, não só do ponto de vista patrimonial mas também daquilo que deve ser verdadeiramente o objetivo da recuperação patrimonial, associando a perspetiva da recuperação do edifício à vivência que dele se faz e ao seu usufruto por todos.

Superar dificuldades

Infelizmente, a Casa do Alentejo atravessa hoje dificuldades graves, reflectindo as dificuldades que milhares de associações, de coletividades de cultura, recreio, desporto, de pequenas e médias empresas estão a atravessar em consequência dos impactos económicos e sociais da epidemia. Isso deve obrigar-nos a reflectir sobre as medidas a tomar para evitar que, com a epidemia, seja destruído o tecido cultural, social e económico nacional.

A resposta às dificuldades da Casa do Alentejo não será diferente daquela que é preciso pôr em marcha para tantas outras associações, colectividades ou pequenas empresas e exige a consideração de três dimensões em simultâneo.

Por um lado, uma resposta de emergência que salve a Casa do Alentejo enquanto instituição perante a gravidade do problema que a epidemia criou.

Por outro lado, uma intervenção de emergência que salvaguarde a actividade cívica, cultural e recreativa que corre o risco de desaparecer, não apenas na Casa do Alentejo mas na vida nacional em consequência da epidemia.

Por último, a necessidade de apoio estrutural por parte do Estado ao desenvolvimento da actividade das associações regionalistas, das associações e coletividades de cultura, recreio e desporto, para que mantenham e desenvolvam a sua actividade, na medida em que são verdadeiramente estruturantes do tecido social, cultural, recreativo e desportivo do nosso País.

Que essa batalha que travamos pela Casa do Alentejo seja a batalha que travamos pelo nosso futuro.




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