«Museu Salazar» seria afronta à democracia e à liberdade
O PCP voltou a expressar o seu firme repúdio pela criação de um «Museu Salazar», defendendo que a memória museológica da ditadura que oprimiu o povo português durante quase meio século «não se faz com a criação de lugares de congregação de saudosistas do passado», faz-se sim pela «pedagogia dos valores da liberdade e da democracia» e por dar a conhecer aos jovens o que foi o fascismo.
«A casa onde viveu o ditador nunca seria um local de estudo e um centro interpretativo do Estado Novo. Mais não seria do que um local de romagem de saudosistas, invocador de alegadas virtude de Salazar e do seu regime, branqueador de todo o lastro de repressão, de atraso e de miséria que o salazarismo representou para Portugal», afirmou o deputado comunista António Filipe, dia 4, na AR, no debate de uma petição da iniciativa da URAP na qual se exigia pelos seus mais de onze mil subscritores que seja travada e abandonada a anunciada criação do referido museu em Santa Comba Dão, com esse ou outro nome.
Numa leitura indulgente sobre o que significa verdadeiramente tal iniciativa, as bancadas à direita procuraram justificá-la sob o argumento de que «tem que haver liberdade para todos os projectos», que se trata apenas de «um centro de interpretação do Estado Novo, um centro de estudos e investigação» (CDS), envolvendo «entidades acima de qualquer suspeita ou preconceito» e que dão garantias quanto a «valores, credibilidade, rigor histórico e técnico» (PSD).
«A memória museológica que a democracia deve à ditadura é a memória de quem lhe resistiu. É o Museu da Resistência e da Liberdade, no Forte de Peniche. É o Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, em Lisboa. É a musealização da antiga cadeia da PIDE no Porto, na Rua do Heroísmo», contrapôs o parlamentar comunista, lembrando que o «espólio de Salazar digno de estudo está no Arquivo Nacional da Torre do Tombo à disposição dos investigadores».
Depois de assinalar que a petição «não é contra Santa Comba Dão e o seu povo», e de chamar a atenção para o facto de a lei proibir as organizações que perfilhem a ideologia fascista, António Filipe sublinhou que a criação de um museu alusivo a Salazar, num momento em que forças políticas de extrema-direita «emergem em vários países do mundo como uma ameaça real à liberdade e à democracia», seria uma «afronta a todos os que, lutando pela liberdade, sofreram a prisão, a tortura ou o assassinato às mãos de uma ditadura que conduziu o País à miséria de que só a Revolução de Abril o libertou».