Precisam-se observadores

António Santos

LUSA


Não adianta continuar a ligar para a linha de apoio às eleições internacionais: todos os observadores encontram-se ocupados com as legislativas na Venezuela. E logo agora que há tanto para observar a Norte! Logo agora, que Trump pede às milícias fascistas que «se mantenham por perto» e intimidem os eleitores. Agora, que o presidente ameaça publicamente não reconhecer os resultados caso perca. Agora, que a Comissão Judicial do Senado dos EUA deu o tiro de partida para confirmar Amy Coney Barrett como a nova juíza do Supremo Tribunal. Logo agora, que o golpe de Estado acabou de ganhar forragem judicial.

Logo para mais teriam a vida tão facilitada que nem precisariam de deixar Caracas para observar Washington, se é que também observam com os ouvidos. Bastaria observarem, a título de exemplo, Trump na televisão a anunciar Barrett como a substituição-relâmpago de Ruth Bader Ginsburg, falecida oito dias antes, explicando em directo que «isto [as eleições] vai acabar no Supremo Tribunal. Precisamos de nove juízes».

Se não tiverem mesmo tempo, eu resumo: no dia 3 de Novembro Trump vai entornar caos, medo e violência sobre as urnas de voto. Depois, vai contestar os resultados e pedirá ao Supremo Tribunal, agora controlado por uma confortável maioria de juízes ultra-conservadores, que decida quem venceu.

Confrontada pelo Senado, esta terça-feira, com a possibilidade de ter de decidir sobre o resultado das eleições, Barrett recusou qualquer tipo de promessas ou compromissos, negando-se mesmo a tomar posição sobre a presença de vigilantes de extrema-direita nas secções de voto. «Tudo está em aberto e não me pronuncio sobre situações hipotéticas», respondeu.

Conhecida pelas suas posições ultra-reaccionárias sobre o aborto, a pena de morte, os direitos das pessoas LGBT e a religião, Barrett contribuiu judicialmente para o roubo das eleições de 2000 através da ordem para parar a contagem dos votos na Florida.

E se o Senado, controlado pelos republicanos, nada poderá fazer para impedir a confirmação de Barrett, o Partido Democrata, que teria interesse e os meios para enfrentar o golpe nas ruas e na câmara baixa, rendeu-se a um silêncio suspeito, pelo que, na ausência dos titulares observadores internacionais de eleições, o povo estado-unidense só poderá contar consigo próprio para observar, vigiar e lutar.




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