Os Mão Morta regressam à Festa do Avante!

CULTURA A Festa é uma «oportunidade para os profissionais da Cultura e do espectáculo poderem exercer a sua profissão e sobreviver a estes tempos tão madrastos», afirmou, em entrevista ao órgão central do PCP, Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mão Morta.

Em 2017, os Mão Morta estiveram na Festa do Avante! com um memorável espetáculo! Que podemos esperar este ano?
Nem mesmo nós sabemos muito bem! A realidade transformou-se de tal modo com esta história da pandemia e tudo se tornou tão imprevisível e tão novo que fica difícil fazer previsões, sentimo-nos profundamente debutantes e virginais, cheios de expectativas contraditórias. A única certeza que temos é a nossa vontade, e essa é a de dar um bom concerto, tão bom ou melhor do que o de 2017.

Como compatibilizar protecção sanitária com um concerto de rock? Que dizer a quem tenha dúvidas e receios a este respeito?
Essa é a resposta para o milhão! A música, e o rock em particular, é uma manifestação gregária, que no rock se expressa por uma profunda comunhão física, que toma várias formas, do crowd surfing ao stage diving, nas mais radicais, mas sempre o contacto, o abraço, a dança, o grito colectivo – como conciliar isso com uma protecção sanitário cuja regra primeira é o distanciamento físico? Impossível! Só através de um simulacro do rock, um rock sem uma sua componente essencial que é o público na sua expressão de loucura colectiva... Estar num concerto rock com distanciamento social é como ver um concerto rock através da televisão, deixamos de estar lá, de fazer parte, para passarmos a ser meros espectadores. Mas é o concerto rock possível neste momento.

De que modo a Festa do Avante!, nesta situação tão crítica, pode ajudar artistas, técnicos e trabalhadores da Cultura?
Como muitos outros sectores da sociedade portuguesa, o sector da Cultura – e o dos espectáculos em particular – ficou paralisado devido à pandemia e apesar da fase de confinamento social já ter ficado para trás, o arranque da actividade continua balbuciante e muito lento, devido aos diversos cuidados que ainda é necessário respeitar e aos legítimos receios da maior parte das pessoas. Por isso, tudo o que seja oportunidade para os profissionais da cultura e do espectáculo poderem exercer a sua profissão e sobreviver a estes tempos tão madrastos, como é o caso da Festa do Avante!, é importante.

De que maneira isto vos afectou, do ponto de vista dos espectáculos como da própria criatividade?
Nós temos um disco novo – saído em Setembro do ano passado – que depois das apresentações feitas no final do ano começou a rodar ao vivo em Janeiro deste ano, sendo que a partir de Março essa rodagem ao vivo entrava em velocidade de cruzeiro: não chegou a entrar, os espectáculos concebidos propositadamente para o disco foram todos cancelados! E como temos um disco novo ainda por rodar ao vivo, a expectativa é que ainda o possamos fazer antes de se tornar um disco velho, pelo que está fora de questão pensar em fazer coisas novas – até porque a nossa sala de ensaios ficou três meses encerrada por ordem camarária e as deslocações também estiveram suspensas, o que para um grupo que tem os seus elementos distribuídos entre Braga, Porto, Coimbra e Almada é dizer o quão impossível se tornou ser criativo.

Do ponto de vista criativo, que se extrai desta situação de pandemia? De que forma esta situação estará presente em futuras criações dos Mão Morta?
O nosso último disco, não pretendendo ser um presságio nem adivinhatório, já expunha uma distopia onde o afastamento social era uma regra de sobrevivência como consequência da evolução do capitalismo e da sua tendência para exaurir o planeta, habitat da espécie humana. De modo que não foi preciso viver na pele esta situação de pandemia para lhe extrair consequências criativas. Se haverá outras no futuro? É bem possível, mas ainda é cedo para o concluir.

Que projectos têm os Mão Morta para o futuro?
Gostávamos muito de retomar a digressão de apresentação do disco novo, que nos estava a dar muito gozo, pela particularidade do seu formato, em que fazíamos uma espécie de concerto duplo, com intervalo a meio, e para a qual tínhamos muitas expectativas. Está-nos atravessada! Fora isso, temos já outros trabalhos encomendados, para a nossa versão Redux, como um novo espectáculo de comunidade centrado nas cantadeiras de Valdevez e nas lendas da região, e um novo filme-concerto – mas só para 2021!

 



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