Transferências

Correia da Fonseca

Foi uma das informações mais badaladas na TV, qualquer que tenha sido o canal que no-la forneceu: Jorge Jesus dá por terminada esta sua incursão brasileira (nada garante que não ocorra uma reincidência) e transfere-se para um dos clubes da Segunda Circular, como por vezes é uso dizer-se na peculiar linguagem futebolística da televisão e não só. Sabe-se que a sua estada no Brasil, treinando o Flamengo, foi um grande êxito pessoal, tanto que até foi referido nesta coluna sempre pouco tentada a aventurar-se nos melindrosos assuntos do futebol, e é previsível que a sua presença num dos maiores clubes portugueses não lhe traga o mesmo apoio unânime que a sua «aventura brasileira» suscitou. Mas também se sabe que a saudade é uma espécie de vírus contra a qual ainda não foi encontrado antídoto de eficácia garantida, nem aliás será talvez desejável esse encontro, sendo mais saboroso e sobretudo mais «patriótico» mantermo-nos vaidosos da condição portuguesa de «esta palavra saudade», mote para muitas glosas de variado gosto. E o poder da saudade é obviamente reforçado quando acontece ser acompanhado por uma retribuição anual da ordem dos milhões de euros. O montante é elevado, mas quase se pode garantir que ninguém o estranhará: o peculiar mundo do futebol, pelo menos nos seus escalões mais altos, tem usos e costumes a que já nos habituámos.

Diferença
Porém, aconteceu por estes dias uma outra transferência, esta não na área do futebol, que não tendo tido decerto repercussão comparável à de JJ ainda assim foi referida com alguma abundância e terá gerado comentários pelo menos no meio em que ocorreu, o da televisão e seus bastidores: o de Cristina Ferreira, star de um certo tipo de TV e de popularidade que pode surpreender. As condições da transferência não são conhecidas pelo grande público, nem elas lhe interessarão sobremaneira, mas sabe-se (ou consta) que além do valor monetário envolvido incluem algum grau de poder de decisão, isto é, de mando. Lembremo-nos de que no currículo de Cristina se inclui um episódio raro: quando de uma transferência anterior recebeu um telefonema de felicitações de uma alta figura do Estado. Ainda bem para ela, a quem a atenção terá sabido bem, mas há em tudo isto um aspecto curioso que impede um integral entendimento: é que, diferentemente do que acontece com Jorge Jesus, do trabalho de Cristina e dos seus resultados não se desprende aquele halo de proeza que acompanha os grandes feitos. Pior: tem havido nele uma componente de facilidade que é parente próxima da mediocridade. Convenhamos que JJ é outra coisa. Embora Cristina seja, no ecrã, muito mais decorativa.



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